É isso aí, Fred. Já disseram isso há muito tempo: “Amigo é pra essas coisas”. Então, meu amigo, chegou a hora “dessas coisas”. Vou me a...

Carta aberta ao meu cão

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É isso aí, Fred. Já disseram isso há muito tempo: “Amigo é pra essas coisas”. Então, meu amigo, chegou a hora “dessas coisas”. Vou me ausentar por uns vinte dias e você vai ter que segurar a onda. Afinal, você é ou não é aquele amigo que a gente guarda do lado esquerdo do peito?

Então, vamos lá.

Aquelas nossas caminhadas, eu e você, às primeiras luzes, agora só voltarão acontecer lá pelo meio de janeiro. Não antes. Confesso que aprecio um pouco a folga que terei ao fim de minhas madrugadas, quando antes das cinco, você já começa com aquele choro,
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Acervo L.A. Paiva
chamando minha atenção, reclamando que seu esteja pronto de bermuda, camiseta e tênis para nossa meia hora de trote. Fiz a medição: 2,6 km. De manhã e à tardinha cumprimos essa trajetória. Até aí, nada de anormal, caminhar faz bem à saúde, à minha e à sua. Ruim mesmo é a manha que você faz para me acordar. Três semanas sem esse despertador canino vou estimar. Dormirei até onde sugerirem minhas vontades.

Sei que está bem acomodado e apesar do seu temperamento traquinas e aloprado presumo que você seja capaz de estabelecer algum compadrio com outros hóspedes dessa estalagem onde o deixei por esses dias quando me ausentarei.

Meu caro, conto com sua compreensão. Era imprescindível que eu fosse. E sabe o que mais quero fazer nesses dias? Ver gente, abraçar gente. Gente especial. Sabe, Fred, meu coração anda apertado de saudade. O que não posso reclamar é das amizades que ao longo da vida fiz e cultivei e dos laços de família que preservei e fortaleci. É muita gente para ver, Fred. Será que vou dar conta?

Preciso dar um pulo na casa dos meus tios Lando e Ionne. Ah quantas linhas seriam necessárias para descrever minha estima por eles e por toda a tropa de irmãos do meu pai. Quantos abraços devo à tia Betty que me pegou pelo cangote e me fez passar o exame de admissão ao ginásio, Dalila e Nice que me paparicaram a vida toda com a ternura que só tias muito especiais sabem fazê-lo.
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Essa gente é mais que sangue do meu sangue, é como meu eu fosse um pedacinho de cada um deles.

Mas, veja Fred, você nem é pai como lhe explicar a saudade que tenho da minha prole. Estão esparramados pelo mundo e neste final de ano nem todos vão estar comigo. E os netos? Caio e Hanna não podem ir. Nem Miguel, então vai sobrar para o Romeo todos os apertões de bochechas reservados aos netos.

Filhos de dois casamentos, complica a aritmética. Das meninas só Gabi vou ver. Larissa em Mossoró (dá para acreditar?) e Adi lá nas latitudes de cima curtindo neve e lareira. O varões (acho forte o vocábulo) vou ver e esticar muita conversa com eles, Iago e Yuri.. Se as filhas estão longe, os filhos de contrabando, vulgo genros também não vai dar para ver (Greg e Danilo). As noras, Gabriela e Jéssica vão ter que me aturar e o genro presente, o Lucas, contrapeso da caçula Gabriela, é quem vai carregar o piano; ou seja, encarregado de dar aquela assistência à sogra que está indo comigo toda cheia de vontades. Até Sônia, a ex, está nos planos de um abraço de reconhecimento pelas veredas que caminhamos juntos.

Mas Fred, a coisa não para por aí. E os amigos? Preciso ir a Campinas e estar com aqueles que me acolheram, enxugaram minhas lágrimas, quando perdi a perda de todas as perdas e tive que devolver a fração de uma joia, a primeira pérola de um colar de sete contas que o Ourives lá de cima pediu de volta. Ah, Silvana, Grá, Wagner, Manoel, Arlete, Joãozinho, Júlio. Luiz Octávio minha eterna gratidão.

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E meus amigos de escola, do Instituto de Eduação João Cursino, conseguirei vê-los? E aqueles com quem partilhei sonhos e quimeras, algumas tolas e outras nem tanto: Adriano Chaves. Modesto Junqueira, Alexandre Rennó, Paulo de Tarso, Flávio Renato, Zé Zanine, Luiz Paulo, Silvio, Dudu, Félix Aidar. Agnaldo. É gente que não acaba mais, Fred. Quero ver a Selma Siqueira (a Deda), minha amiga e parceira de trabalho. Será que o Wagner Marcondes (o Waguinho) anda por lá? Não acha vinte dias pouco?

Quero ver também a Alba minha “boadrasta” e ficar bastante com a Bani, a irmã caçula, e com meu cunhado Marcelo. Ver os primos em cima da serra. Haja chão Fred: São José, Campinas, Campos do Jordão e Araçoiaba da Serra. É pouco? Dona Ludmila pode ir preparando pouso de uns dias: “Tô chegando!”

Então Fred, segura as pontas por uns dias. Quando vamos ficando velhos (você é jovem e não entende dessas coisas) não podemos adiar um abraço, um gesto de ternura. O tempo conspira contra nós. Estou indo pagar essa conta. Fica com Deus, meu amigo e se comporte.

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