Várias vezes deixávamos juntos o escritório de Assis Camelo, na Associação dos Procuradores, motivados a recompor uns anais políticos...

Cai de onde esse convite!

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Várias vezes deixávamos juntos o escritório de Assis Camelo, na Associação dos Procuradores, motivados a recompor uns anais políticos a partir dos anos de Pedro Gondim, sequenciados pelo contingenciamento do regime militar, de quando Waldir foi testemunha de vista e de convivência política.

Refiro-me a Waldir dos Santos Lima, amizade nascida no ambiente dos dois governos de Pedro Gondim, ele na chefia do gabinete ou na Casa Civil, eu na redação de A União com acesso privilegiado às notícias do Palácio. Ele um remanescente da aristocracia rural dos Duarte Lima, muito bem apessoado, alinhado mesmo, eu jeitoso de conversa mas sem nunca me distanciar da bagaceira - os dois extremos sociais da antiga Festa das Neves e do regime de vida da nossa zona canavieira.

ALPB
Seriam distintos os nossos pensamentos políticos, mas sem radicalismos, o aroma doce e morno das tachadas de rapadura afeiçoando o nosso convívio. Vem a aposentadoria e nos acomoda numa relação mais efetiva, e por que não dizer, num apego de velhos companheiros. O escritório de Assis era a sala de estar, o parlatório dessa conterraneidade ao redor de Pedro, já octogenário, as mãos e o queixo apoiados na bengala, revigorando-se no meio dos seus, que éramos todos, a maioria descida dos penhascos comuns da Borborema brejeira, da Serra da Onça à da Copaoba, de Areia, Alagoa Nova à Serraria.

“Vamos sentar e botar no papel a arenga política desses cinquenta anos!” – era a minha proposta a um privilegiado da memória, ator e expectador numa quadra em que os de 1930 começavam a se despedir e seus epígonos, a partir de Pedro, na Paraíba, e Cid Sampaio em Pernambuco, passavam a entrar. E sob as faíscas de um sol novo atiçado pelos 50 anos em 5 de JK e a onda desenvolvimentista do ISEB posta em prática por outro visionário, Celso Furtado.

Acervo de família
O que mais distinguia Waldir, além das funções que exerceu e do protagonismo em duas ou três décadas de militância política, era o seu voluntarismo. Impunha-se queixudo a líderes, a governadores, todos receosos de contrariá-lo. Os momentos altos de Ivan Bichara, de Mariz e de Burity mediavam-se com os de Waldir. Apoderou-se de uma faculdade de articulação capaz de influir e decidir até nas instâncias de força.

Nas missões que recebia foi mais agente do que portador. Com esse perfil, presidiu a Assembleia, articulou candidaturas, pôs água em muitas fervuras, mas falhou consigo mesmo, quando tinha estofo de raiz e de pulso para chegar ao governo. Deve ter sonhado com isso, como seria natural, mas faltou-lhe a ajuda do temperamento. Custava a ceder e isso nunca ajudou na história do carreirismo.

Destacando-se como político, não cultivava o populismo. Não era um perdulário de abraços e acenos fáceis. Nisto lembrava o tio Clóvis Lima, pioneiro do ensino comercial, criador da Faculdade de Economia e a quem muito deve o Instituto Histórico e a Justiça do Trabalho de nível regional. Mas também duro em suas batidas de martelo. Ângela Bezerra de Castro, muito acima das colagens de Fake News, é dessa índole.

@amigosdopedal
A fidelidade de Waldir às origens ainda o vinha prendendo ao engenho da família, em Serraria, que, enquanto vivo, a moendinha de 1915 ou 20 nunca parou de moer mesmo numa conjuntura de fogo morto e de bueiros apagados. Há poucos dias li, vivendo linha por linha o perfil do melhor memorialismo que Ramalho Leite lhe dedicou.

Hoje, sem estar nos meus planos, cai de uma agenda velha o convite para a missa do 30º dia de seu falecimento, num 6 de janeiro de sete anos atrás.

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