Era uma vez uma mulher, brasileira, que recusou-se a fazer amor com ninguém mais ninguém menos que Alain Delon, o célebre ator francês, à época considerado por muitos e muitas como o homem mais bonito do mundo. Estamos falando do ano de 1978 e o ator estava com meros 42 anos de beleza incontestável. Hoje, pelas fotos mais recentes, ele é uma múmia igual a outras da mesma idade, para consolo e vingança daqueles que sempre viveram em sarcófagos. Não há beleza que resista ao tempo, esse “escultor de ruínas”, bem sabe o leitor, mas vamos ao que interessa.
Alain Delon e Mireille Darc, Boate Regine's (Rio de Janeiro, 1978) @glamurama
Para quem observava de fora o belo casal na pista de dança, imagino que o pensamento era o seguinte: “Ela tirou na loteria, pois amanhã sua foto com Delon estará em todos os jornais, impulsionando fortemente sua carreira de jovem modelo; ele também tirou a sorte grande, pois certamente passará a noite – ou parte dela – nos cobiçados braços da beldade”. Creio também que ele e ela, que de ingênuos não tinham nada, devem ter pensado a mesma coisa, sem nenhum problema, pois todos sairiam ganhando com o aparente “affair”.
Fernanda Bruni, Boate Regine's (Rio de Janeiro, 1978) @glamurama
Mas nada feito. Fernanda pediu licença para ir ao toalete e de lá saiu, furtivamente, pelas portas dos fundos para nunca mais, deixando o ator francês a ver navios ou sei lá o quê. Dá para acreditar? É difícil, não é mesmo? Mas tudo isso aconteceu e é contado em letra de forma pelo escritor e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, respeitado biógrafo de Zózimo e de Antonio Maria, o cronista e compositor.
Voltando à virtuosa modelo e ao seu extraordinário “não”, fiquei refletindo e concluí sobre sua precoce e inesperada sabedoria de vida. Pois se tivesse ela dado a Delon o que ele tanto queria, seria apenas mais uma numa relação de inúmeras frequentadoras da cama do ator. Já estaria totalmente esquecida sua dádiva e não teria ela nenhuma história gloriosa para contar, salvo uma “glória” partilhada por muitas outras. De fato. Entretanto, negando-se exatamente a quem ninguém se negava, ela detém um triunfo único que ninguém pode lhe tirar: o de ter espontaneamente recusado o “homem mais bonito do mundo”. Sem dúvida, é história para se contar a netos e bisnetos, com muito orgulho. Ou não é?
Moral da história: às vezes, mas só às vezes, é não dando que se recebe.