Essa é uma história colhida nos sonhos e dedicada aos sonhadores da nossa doce Parahyba!
Eles entenderão.
Sou homem da praia e vi esse passeio que veio do mar. Era uma manhã de dezembro no Cabo Branco!
Os ventos sopram suaves levando a nave para a beira da praia. O barco vem do horizonte azulino em um mar sereno de poucas ondas.
Eles entenderão.
Sou homem da praia e vi esse passeio que veio do mar. Era uma manhã de dezembro no Cabo Branco!
Os ventos sopram suaves levando a nave para a beira da praia. O barco vem do horizonte azulino em um mar sereno de poucas ondas.
Uma viagem de retorno! De um céu para um paraíso... As areias acolhem os viajores como tapetes amornados por duendes da madrugada embranquecidas de ondas em pétalas de espumas. Uma recepção de reis!
Eles desceram de mãos dadas, um enlevo de casal antigo, de amor precoce e longevo, de mais do que gritos, de mais olhares do que conversas. Um é José, a outra é Anna! Um é conhecido por ser Américo, a outra por ser a Alice... são uns de cada uns.
Há muitas histórias de Américo e quase nenhuma de Alice. Um era o sol, a outra era a sombra!
O Américo é o das vozes e a Alice a dos ouvidos. Um santíssimo dueto.
O mar estava baixo e eles vieram em mansidão pela praia. Um passeio de passos pequenos, curtos e cansados, mas firmes.
A casa estava perto e logo eles descansariam nas redes do terraço embalados na ternura de uma vida silente. Eles vinham rever seus tesouros de amor não aqueles tesouros da história.
Dessa vez, estavam muitos mais viventes para o pomar do que para a biblioteca.
Havia ansiedade em ouvir os pássaros e ver as frutas das árvores. Não dariam ouvidos aos passantes ou aos moradores das suas salas...
Estavam de volta como visitantes de pouca demora. E com mais interesse nas tessituras de sua parelha, no amor de casal, do que nas curiosidades acadêmicas dos ávidos pesquisadores de suas tramas políticas.
Eles queriam rever suas cartas de família, seus poemas de amor e não os estudos dos intelectuais...
Eles iriam ao pomar colher sapotis e pinhas, goiabas e araçás, cajus e limões... dádivas da natureza em cumplicidade com os cuidados orgânicos de um casal brejeiro!
A casa de longe já estava chegando perto deles! Eles vieram de dentro do mar para vê-la ainda erguida areias, e ela estava lá como uma das tantas árvores plantadas pelo casal.
Enfim chegaram ao muro baixo da casa adorada que conceberam com meandros de uma arquitetura singela e praieira, jardim à frente e quintal nos fundos...
E andaram ajuntados nas mãos por dentro dos jardins encandecidos pelos tempos. Uma plantinha de outrora agora é uma gigante vigia, maior que o casario.
Logo, entraram nas varandas e assentaram nas cadeiras. Como velhos amigos!
As delícias do passeio estavam sendo fruídas como eles sonharam. Alice e José estavam tão juntos que eram um só céu, de tanto amor irradiado...
Agora a casa estava cheia de nova gente! Um vai e vem de pessoas em burburinhos, estudantes zoavam as salas e os corredores e os quartos.
A casa era a mesma, mas havia novos moradores. E o pomar não estava lá.
Morrera!
Os novos moradores construíram um prédio de livros onde era o pomar.
Mataram o pomar de Alice! José e Alice vieram de barco numa viagem de visita ao pomar e não viram suas árvores e nem seus frutos.
Com o sol ainda na manhã, de mãos dadas, saíram de volta para a nave e retornaram ao alto-mar do horizonte.
Dessa viagem dos sonhos ficou um perfume de rosas e jasmim!
Ontem, senti rastro doce desse perfume! Passeando pelos caminhos entrantes e saintes dos jardins da Fundação Casa José Américo...
Ainda vi, indo ao longe… Um homem e uma mulher. Em silêncio, nas areias do Cabo Branco.
Ainda acredito que podemos existir sem destruir: - As lembranças não devem ser somente memórias!
Ex-Corde.