Passei batido no dia da Conceição deste ano. Conceição, cuja imagem pequenina, desfigurada, já sem as mãos, vinda de minha mãe e provi...

Que claridade

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Passei batido no dia da Conceição deste ano. Conceição, cuja imagem pequenina, desfigurada, já sem as mãos, vinda de minha mãe e provinda da mãe superiora da Casa de Caridade do Padre Ibiapina, conservo no ângulo mais claro ou iluminado de minha sala.

É uma claridade que me remete a Campina. Volto a repetir: é difícil saber de onde emanava mais luz, se do encanto do adolescente com a vida ou se da própria cidade. Cidade alta, descampada, toda exposta ao sol que, recamado de vento, não queimava, só iluminava.

Torre da Matriz Nossa Senhora da Conceição - Campina Grande (PB) @CatedralCG/
Sem árvores, sem nenhuma grande sombra, a gente e as casas ficávamos em exposição total, como se a manhã fosse meio-dia, numa claridade em que tudo subia ao primeiro plano, da torre da Conceição aos carrinhos de mão que rolavam do Alto Branco.

Que claridade! Os óculos de Leônidas, um colega que tirava a mensalidade do colégio e o dinheiro da matinal dos domingos de chupetas de açúcar feitas em pequenas formas para entregar à venda nas bodegas do bairro.

E mais claro que tudo nos parecia o futuro, Juarez Farias, escrevente de cartório, dedilhando a máquina sem olhar para o teclado ou o papel, mas já de olho nas avenidas do mundo, Rio Branco, Paulista e todas as outras streets das nossas utopias.

E Palmeira Guimarães? E Asfora? Todos iniciando a métrica dos versos na mesinha das Boninas, os dois com os ouvidos em Tagore.

A altura e claridade de Campina davam para tudo isso. Virginius abancado na porta da cervejaria Petrópolis com uns convivas que só ele sabia, via e chamava pelo nome.

Torre da Convento Ipuarana - Lagoa Seca (PB) @patos.gov.pb/
É o que avisto, com a mão amparando os olhos, ao chegar neste alto de Luiz de Melo, às vésperas da Conceição, dia da padroeira, na subida do Convento de Ipuarana, de onde Agnaldo Almeida saiu para a escrita clara, ensolarada, com que os franciscanos, o exercício da leitura e o talento o moldaram. Ipuarana que continua aberto e atraindo vocações nordestinas, como esta do Piauí com quem mantenho vizinhança e amizade do professor Bené.

Como tudo, a vista é outra, outra a cidade, quase toda transferida para os altos, para onde tem alçado a vocação do seu povo.

Faço sempre essas viagens de reencontro. Da última vez caminhei até a praça Clementino Procópio, que não saiu do lugar, mas que não é a mesma. A mesma topografia, a mesma configuração urbana, mas, aos meus olhos, tratada como um lugar de destroços. Não mais o convite à contemplação dos olhos e do espírito. Parada de ônibus de um lado, barracos e pavilhões comerciais a se atritarem com a antiga paisagem. E ao lado, na parte mais alta, o prédio em abandono de cujas matinais de domingo nunca cheguei sair, a matinal festiva do Capitólio. Prédio que é templo histórico e artístico numa crônica imortal de Chico Maria.

E me vem a ânsia de recorrer à prima Laura, ali na Rua 13 de maio, e fisgar o dinheiro da entrada.

Sozinho, fantasma de mim mesmo, nunca me vi tão bem acompanhado.

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  1. Minha primeira aportada foi no alto da Prata, no grande colégio estadual (1969). 10 anos depois estava de volta, ainda a tempo de dividir mesas com Asfora e Palmeira Guimarães, que vinha do Rio pra matar saudades

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