Na sexta-feira (23) nossa conversa foi sobre discos. Vou tomar como referência a indústria fonográfica de meados da década de 1970. Pode ser uns anos antes. Pode ser uns anos depois. Era o tempo dos discos de vinil. Era por meio deles que consumíamos música. Eram eles que, no caso dos colecionadores, formavam nossos preciosos acervos domésticos. No Brasil, os discos rodavam em 33rpm. 45rpm, só nos singles importados vindos quase sempre dos Estados Unidos ou da Europa.
Havia os discos de 7 polegadas. Chamavam-se compactos. Podiam ser simples ou duplos. Acondicionados em envelopes quadrados de papel, os simples continham somente duas músicas. Uma no lado A. Outra no lado B. A faixa do lado A era lançada para alcançar quem sabe o topo das paradas. Os duplos, acondicionados em capas de cartão, com fotos e um invólucro plástico, continham quatro músicas. Duas no lado A. Duas no lado B. O compacto simples costumava anteceder o lançamento do LP. O duplo trazia uma síntese do LP.
Os discos de 10 polegadas, muito populares no início dos anos 1950, tinham uma circulação restrita duas décadas mais tarde. Abundavam no mercado na época em que os discos de 12 polegadas ainda não eram tão populares. Para citar somente um exemplo, o clássico As Canções Praieiras, de Dorival Caymmi, era um disco de 10 polegadas. Tinha quatro faixas no lado A e mais quatro no lado B. Nos anos 1970, a indústria recorria ao formato para lançar coleções – de música popular brasileira, de clássicos – vendidas em banca de revistas.
E, por fim, tínhamos os discos de 12 polegadas. Chamavam-se LPs ou álbuns. Continham 12 faixas como padrão. Seis no lado A. Mais seis no lado B. Também eram muito comuns os LPs com 14 faixas, sete de cada lado. Nos anos 1980, muito frequentemente, só tinham 10 faixas. Oito, até. A duração das músicas podia determinar o número de faixas de um LP. Transa, de Caetano Veloso, só tinha sete faixas. Já o duplo Álbum Branco, dos Beatles, tinha 17 faixas no primeiro disco e 13 no segundo. Um LP com uma sinfonia podia ter duas faixas de cada lado.
Essa conversa foi motivada por um texto de Mauro Ferreira. Numa retrospectiva de 2022, o crítico do G1 aponta os melhores EPs do ano. Um EP está mais para o velho compacto duplo de vinil do que para o LP ou álbum. O EP, como assinala Mauro, é “ideal para o artista sem repertório e/ou recursos financeiros para gravar álbum, mas também indicado para ouvintes sem paciência para escutar uma sequência de oito ou mais músicas”. Ressalte-se que o consumo de EPs se dá massivamente em serviços de streaming. O EP se afirma enquanto o CD físico agoniza.
⏤ Texto publicado originalmente no Jornal da Paraíba ⏤