Num recanto bonito do Brasil, Sorri a minha terra amada... Onde o azul do céu É mais cor de anil… (Meu Sublime Torrão (1937), compos...

O Cassino da Lagoa

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Num recanto bonito do Brasil, Sorri a minha terra amada... Onde o azul do céu É mais cor de anil… (Meu Sublime Torrão (1937), composição de Genival Macedo)

Em um desses domingos já ensolarados, mas ainda sem o calor do sol tão quente embora mais gentil, como bem lembra Genival Macedo, em sua composição Meu sublime torrão, gravado originalmente pelo autor e apresentado na inauguração da Rádio Tabajara, no ano de 1937, como registram alguns historiadores.

Cumprido o preceito católico da missa dominical, vi-me, na companhia dileta daquela que adoça minha vida há tanto tempo, a circular pela Cidade das Acácias, no “rumo da venta”, hábito que adquiri quando recebi autorização paterna para comprar uma bicicleta Phillips, aro 28 (modelo já de adulto), para meu uso diverso, que ia do cumprimento de missões domésticas ao lazer descompromissado.

Nesse vento me leva, me traz, domingueiro, começamos a transitar pela Avenida Gama Rosa, onde, de repente me imaginei estar parado à sombra da vetusta
@carolreisdearaujo.
gameleira imolada por um machado cruel em benefício da modernidade urbana, que naquela avenida marcava o bairro do Roger, de forma indelével. Dalí, com pequeno desvio de curso, circulei pela Rua Borges da Fonseca, para recordar a alegria dos moradores da área e dos frequentadores ocasionais, partícipes da quermesse que se seguia à Novena de Santa Terezinha, recitada nas noites estreladas do mês de Maio.

Ainda nessa contemplação, inesperadamente uma força irresistível assumiu o volante da moderna carruagem que nos conduzia, proa para uma área que os remanescentes das gerações de então, dentre os quais ainda me incluo, identificam como uma das mais icônicas da saudosa Cidade das Acácias: a Lagoa dos Irerês ou do Parque Solon de Lucena. Para nós, simplesmente, a Lagoa e sua joia - o Cassino da Lagoa, ainda hoje trazendo recordações as mais diversas, de pessoas, fatos e vivência que marcaram uma época.

Somente me vi liberto daquela força irresistível após estacionar adequadamente a carruagem no local a que ela nos conduziu, apresentando os devidos cumprimentos à quase secular árvore, que, no gramado contíguo àquela joia, nos fornecia sombra para nos instalarmos em uma tradicional mesa de bar a sorver goles do Ron Merino com Coca-Cola, acompanhado de petiscos como tiras de filé ao molho ou o camarão ao alho e óleo, preparados com a finesse que só aquela cozinha tinha e ainda mantém, nos dias de hoje, como tivemos oportunidade de comprovar nessa tarde, de boas recordações.

Que surpresa!

@nicelocal
Acolhidos e acomodados com a mesma atenção que era dada à sua clientela , naquela época.

Ah!, quantas lembranças daqueles tempos.

Contemplando Na lagoa, os gansinhos, com seu nado devagar, surpreendeu-nos, de pronto, a reforma interna, feita pelos seus atuais proprietários, que, embora aplicando processos e materiais dos dias de hoje, respeitaram a pureza dos traços do projeto arquitetônico original.

Tive a oportunidade de constatar que os anos e as vicissitudes ali vividas em algumas épocas não conseguiram causar danos de monta, felizmente superados, a esse monumento de nossa história, hoje tratado com o respeito merecido.

Ali, tiveram acolhida fatos e acontecimentos marcantes de uma era.

Serviu de palco para que o então candidato a Senador, pela Paraíba, o Jornalista Assis Chateaubriand, fizesse a apresentação do sistema de televisão que ele pioneiramente implantara em São Paulo – a Tv Tupi e acolheu manifestações políticas memoráveis, como os comícios de encerramento de campanhas eleitorais, que se realizavam, no Estado.

Acolheu também outras personalidades de destaque no nosso mundo social, político e artístico e, como não podia deixar de ser,

As morenas tão gentis ostentando os seus perfis numa noite de luar.

Herleine Miranda
Atendendo às imposições dos tempos modernos, atualizaram-se, também, os usos e costumes, até mesmo de estabelecimentos dessa ordem, como é de se esperar. O Ron Merino com Coca ficou na saudade. Mas, no cardápio, a Língua ao Molho Madeira e a Lagosta ao Thermidor, permanecem. Na saudade, também, o Filé a Newton Borges, homenagem da Casa a um de seus frequentadores mais assíduos, daquela época.

Mas, como na vida nem tudo são flores, temos a lamentar a falta de sensibilidade e senso histórico de autoridades que deveriam ser guardiães da nossa memória histórica, permitindo que projetistas ou arquitetos desprovidos de qualquer tino tenham conspurcado a memória da cidade, violentando a beleza simples daquele local com a inserção de um verdadeiro monstrengo a agredir a face externa dessa joia, voltada para a lagoa, trocando o jardim ainda hoje referenciado como parte do projeto de Burle Marx para toda a área, por um amontoado de madeira, sem nenhuma utilidade estética ou funcionalidade, que já começa a apodrecer.

Saímos de lá felizes com o que vimos e com o tratamento recebido, na certeza de que esse comportamento é e será o Selo de Qualidade da Casa, que renova sua história.

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  1. JOSE MARIO ESPINOLA1/12/22 18:42

    "A minha terra, que o sol encerra, belezas mil..."
    Delicioso roteiro sentimental, que acabo de percorrer junto com o autor.
    Me fez voltar às minhas infância e juventude.
    Parabens, Arael! Que maravilha de texto!

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  2. JOSE MARIO ESPINOLA1/12/22 22:22

    No meu coração o Cassino da Lagoa tambem ocupa um lugar de honra.
    Nos final dos anos 1960 nos abrigou (estudantes) na resistencia contra a ditadura militar, quando foi o Restaurante Univesitário..
    E era a melhor Lingua ao Molho Madeira de João Pessoa. A vista privilegiada.
    Quantas saudades contidas na sua crônica, Arael...

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