POST SCRIPTUM Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu...

O brilho secreto de um anjo

poesia capixaba jorge elias neto

POST SCRIPTUM
Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu nome, qual fosse um simples manto pousado sobre a encosta, em um abismo, (refúgio e temor do ser humano), e o som, o eco, derradeiro grito, mantra de entrega de seu corpo manso (Não se disfarça, se acolhe o aflito salto na intimidade do infinito, daquele que sem asas faz seu voo) “mais tarde”, sem sentido e agudo silvo, remanso que não cabe ao corpo hirto e o baque do soneto no abandono.
A VIDA, POR ENQUANTO
Ao pegar o molde da vida, observe se as ligas de sonhos, suspensos nas paredes do esquecimento, têm uns pontos do incolor da noite. (a escuridão é travessa em seus desentendidos) Uma opinião, um porre, qualquer beijo no torpor da madrugada, vale o peso da verdade de seu nome. A vida, por enquanto, é isso, um sopro de alívio, uma gargalhada quando se lembra que não pode dizer que sabe o caminho de volta.
* poemas inéditos (dezembro 2022)


MANUAL PARA DESPERTAR
Guardar os corpos na memória, desfazer a ilusão de que se constrói sobre flores, pois são mártires e escombros, e fuzis, e ferozes trombetas do infortúnio, e um sentimento de tentar entender o tempo.
MANUAL ACALORADO DO ESPÍRITO
Demônios, aflorai na pele morta dos que se olham e se desprezam. O molho de chaves serve a uma única porta sem propósito ̶ desperdício. Demônios, padrinhos desprezados, calor de minha alma, rota sem rumo ou abrigo. Movam a taça no beiral da sanidade. Cessem a verdade, ̶ resma de dúvidas. (Morra absolutamente a consciência do tempo, o transitório alívio, o desentendido lapso da razão, o deslumbramento.) A paz de demônios é o que nos rege ou o que ignoramos? A paz é alicerce ou privação, remanso? Agir, demônios, agir! Não ter na culpa o embuste. (Os mortos ignoram as fuligens e as traças.) E, se houver vingança, será de outra tez pálida, a continuar o traço e a falácia humana. Despertem, demônios, eu os escuto, e introduzo o que resta, esta lentidão das palavras mortas, este ócio, este vulto, este desapego.
* poemas do livro Manual para estilhaçar vidraças,
disponível na Editora Cousa

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