Me sinto um fio d'água. Desses que ninguém percebe, mas encharca o chão de tanto que brota, que vinga sem parar.
Nesse vau perco, temporariamente, o meu signo, meu sentido e enxergo a vida muito, mas, muito maior que eu.
Sou a pessoa comum que carrega nas mãos a sacola vazia e nos ombros a canga de uma vida feita de acasos.
Nesse vau perco, temporariamente, o meu signo, meu sentido e enxergo a vida muito, mas, muito maior que eu.
Sou a pessoa comum que carrega nas mãos a sacola vazia e nos ombros a canga de uma vida feita de acasos.
Minha pele seca e áspera me incomoda. Só respiro quando lembro de puxar o ar. Minha visão turva, meus olhos ardidos e secos formam um conjunto de agonia momentânea.
Minhas pernas, inquietas mesmo durante o sono, querem chegar antes de mim ao lugar das respostas um dia faladas pelo meu pai.
Não adivinho. Apenas sonho.
Sinto o cheiro de seu cangote, o toque de suas mãos macias e quentes. Ouço, lá longe a sua voz em resposta ao meu "eu te amo" dizendo: "faça isso, não custa nada!"
Olho um pouco para trás e vejo a minha identidade surrupiada, a minha história de menina, moça, mulher, encaixotada por pessoas estranhas e luto, para que uma estória inventada por eles não me tome pelo cansaço.
Não. Nunca será minha uma estória inventada por outros.
A falta de rumo, o adiantar do tempo ficaram do lado de fora e eu envelheço a cada dia só de pensar, só de sentir essa confusão.
A mente e a vista enevoadas tornam meus movimentos inseguros, frágeis como os de um pássaro noturno.
Enquanto isso calculo movimentos, palavras e expressões com o cuidado de quem não suporta a desarmonia no lugar do amor, e vou!
Continuo indo.
Como um fio d'água que não para de correr por sobre o chão já encharcado do que carrego comigo.
A minha sorte é que danço. Adoro! Pois carrego muitas mulheres comigo quando danço!
A minha sorte é que choro e lavo a dor de mulheres que vieram antes de mim e deixaram suas dores por aí pelos cantos para serem choradas.
A minha sorte é a resiliência, a verdade, a força, a fé que me faz acreditar que tudo é movimento. Que mais do que entender, o importante é viver e sonhar.