No fundo sou alguém que tem mais pena que amor próprio. Fico sempre no fim da fila dos personagens que invento.
Minha constante espreita da morte é só o medo de ser flagrada na vida, não é desencanto, tristeza, desagrado.
Só não posso perdê-la de vista, preciso deixá-la à mão. Isso me dá uma certa segurança - saber que posso decidir sobre ficar ou partir... Gosto de sentir que entre a vida e a morte existe o meu poder de decisão.
Minha constante espreita da morte é só o medo de ser flagrada na vida, não é desencanto, tristeza, desagrado.
Só não posso perdê-la de vista, preciso deixá-la à mão. Isso me dá uma certa segurança - saber que posso decidir sobre ficar ou partir... Gosto de sentir que entre a vida e a morte existe o meu poder de decisão.
Às vezes quero ficar longe, fora de mim, me canso de não descansar um minuto! De estar sempre à espreita para não sucumbir.
Às vezes estou bem comigo mesma.
Mas não me encontro com a tal expressão "a vida é bela" por mais de uma ou outra surpresa no caminho, um ou outro cigarro, uma ou outra carraspana de vinho ou de uma boa cachaça. Nada que dure muito tempo…
O que acho da vida? Acho que a vida é serviço, compromisso, trabalho e um tanto de rebeldia.
A rebeldia das baleias que, gigantes, jurássicas, se atrevem a vir à superfície espirrar água e ecoar seu grito fino e infantil.
Algo me colocou de frente pro meu fracasso. Não sei identificar o que foi.
Estou aqui, diante do roupeiro buscando uma pele nova. Estou vestida na pele da velha foca, que vive nas profundezas geladas.
Estou diante do roupeiro, mas estou cega. Terei de encontrar outra pele no tato. Pois no fundo, não estou nem comigo mesma.
Que ninguém pense que sou derrotada, não sou. Estou mais para louca!
Em pouco tempo, minutos, horas, ou dias, me vestirei de outra coisa mais palatável aos olhos, ouvidos e corações humanos e entro na roda novamente.
Mas, por enquanto, cega e gelada (embora sem frio) sigo na ante-sala da morte onde ninguém quer chegar.
Paro e sigo. Sigo e paro. As dores se movimentam, mas, não mais que eu.
Estou condenada a viver e fazer da vida algo bom. E tento. E faço.
A vida não para...