Se existe um profissional para quem devemos o maior respeito do mundo é o coletor de resíduos, que anda agarrado nas traseiras dos veículos, saltando aqui e acolá, correndo de um lado para o outro, coletando o lixo produzido pela população.
Expostos ao contato com mau cheiro e à contaminação de resíduos deteriorados, eles cumprem uma tarefa visceralmente importante para a vida urbana. Ai do mundo urbano se não fosse o seu trabalho.
Expostos ao contato com mau cheiro e à contaminação de resíduos deteriorados, eles cumprem uma tarefa visceralmente importante para a vida urbana. Ai do mundo urbano se não fosse o seu trabalho.
Certa vez, estávamos numa das estreitas ruas do Quartier Latin, em Paris, saindo do hotel a caminho do aeroporto e, de repente, o trânsito para, sem motivo aparente. Após alguns minutos, já preocupado com a possibilidade de um atraso para o nosso voo, desci do carro e caminhei até mais na frente para descobrir o que obstaculizava a via pública. Foi quando me deparei com um caminhão de coleta parado no meio da rua, enquanto os garis recolhiam o lixo de hotéis e restaurantes próximos.
O que mais nos impressionou foi, ao voltar para o carro, observar uma espantosa serenidade no semblante de todos os motoristas que aguardavam solidários e pacientes o serviço da coleta. Nenhuma buzina, nenhuma irritação por parte dos ocupantes dos veículos que esperavam tranquilamente na fila congestionada.
Certa noite, numa das ruas aqui de Tambaú, nos deparamos com o mesmo fato. Um caminhão de coleta à nossa frente se movimentava com velocidade moderada e os rapazes corriam apanhando apressadamente os sacos nas calçadas. Era incrível a rapidez com que eles se deslocavam para pegar o lixo e conseguir alcançar o carro, que não parava, decerto com medo de "atrapalhar" o trânsito. E não havia paciência alguma na expressão dos motoristas atrás deles... Como se não se conscientizassem da importância desse serviço.
Certa vez, nossa amiga Ieda Menezes revelou que um olhar furtivo sobre os rapazes da coleta, mudou, há 25 anos, sua forma de comemorar o Natal.
Ieda era acostumada a se confraternizar com festas em família, regadas a comidas, bebidas e presentes, tudo envolto em bons perfumes, roupas especiais e muitos abraços. Mas, ao se recolher, no final da festa, ano após ano, ela sempre sentia um certo vazio. Como se algo lhe faltasse naquela noite tão significativa para a sua fé cristã, sobretudo quando pensava nos que não tinham condições de comemorar o Natal. Uma vez, aproximou-se da janela e rogou aos bons espíritos que a inspirassem, lhe dessem alguma ideia. Foi quando avistou um gari terminando de fazer a coleta na sua rua e separando, em um saco, restos do lixo que lhe interessavam levar para casa.
Logo intuiu a resposta. A luz que queria. Dali por diante organizou na garagem de sua casa o Natal dos garis. E isso começou há quase 30 anos. Hoje ela diz que nenhuma noite do ano é tão feliz como esta, que se tornou tradicionalmente conhecida na sua rua e no seu bairro: “Dá gosto vê-los chegar, sempre na hora em que está programada a coleta de de nossa rua, nas noites de Natal. Noites que para eles são de trabalho, mas agora regadas à confraternização verdadeiramente cristã.
Assim que chegam, Ieda lhes tira as luvas, e dá-lhes um abraço. Depois de orar e cantar parabéns a Jesus, todos se servem, do bom e do melhor, também trazido por alguns vizinhos que se aliaram à grata ideia e chegam com presentes de todo tipo.
Após a sobremesa, ela e os amigos enchem a boleia do caminhão com os presentes e se despedem com muito amor. E "nenhuma noite do ano tornou-se tão feliz como esta". Cheia de amor. Amor que não é só de Natal…