Faço meus exercícios espirituais nas festas de Natal e Ano-Novo. Em casa, sozinho, acendo uma vela e relembro os bons tempos das festas em família, junto com meus pais e meus irmãos.
Repasso as situações agradáveis e desagradáveis que vivi nos últimos meses - e aproveito para rezar pelos parentes e amigos, pelos que já se foram. Não deixo de fazer um ato de contrição, de arrependimento pelas más ações que pratiquei no decorrer do ano.
Vivo este ritual desde 1972, ano em que meu pai faleceu (ele morreu na manhã de 23 de dezembro e foi sepultado na véspera do Natal, ao pôr-do-sol). Os circunstantes não entendem bem meu gesto, que, na verdade, não deixa de ser um ato religioso.
Não sinto tristeza nem sofrimento pelo fato de estar afastado do local em que os outros brincam. Pelo contrário, faço isso com serena satisfação. É como se estivesse velando pelos meus entes queridos enquanto eles se divertem.
O certo é que depois do ritual começo o ano com alma nova.
Posso dizer que esta é a minha Páscoa fora de época.