A epistemologia é basicamente o estudo do conhecimento humano. Há uma notável tríade de filósofos britânicos, além de Francis Bacon e Thomas Hobbes, que representam uma linha de pensamento que baseia a origem fundamental do conhecimento na experiência sensível. O ponto de partida é, por óbvio, o mundo exterior. Tal vertente de abordagem da realidade seria uma espécie de realismo ou materialismo, isto é, no processo de conhecimento, o que importa mais é o “objeto a ser conhecido” (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos), e não o “sujeito conhecedor” (nossa consciência, nossa mente), substrato para elucubrações idealistas.
O inglês John Locke (1632—1704), a meu ver, é o mais importante de todos, pois é um dos pais do liberalismo e um dos principais teóricos do contrato social. Combateu duramente a doutrina que afirmava que o homem possui ideias inatas, pregando que, quando nascemos, somos uma tábua rasa, mensagem fundamental de sua obra clássica Ensaio acerca do entendimento humano.
Para ele, as ideias que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Não enxergava a existência de um poder inato (ou de origem divina), muito menos de ideias inatas, contrapondo-se ao cartesianismo. Seu conceito de identidade pessoal influenciou outros filósofos como Hume, Rousseau e Kant.
Contribuiu para a difusão de valores iluministas como a tolerância religiosa, a liberdade individual, a livre-iniciativa econômica, sendo considerado um dos precursores da democracia liberal. Na verdade, com Locke nasce a concepção do Estado liberal, construída de forma exuberante em seu Segundo tratado sobre o governo civil.
O irlandês George Berkeley (1685-1753), por sua vez, desenvolveu uma espécie de idealismo materialista. Ele negava a existência da matéria como algo apartado da mente. Para ele, “Ser é perceber e ser percebido”. Sua filosofia “mucho loca”, sob o ponto de vista do racionalismo tradicional, defendia a existência de uma mente cósmica, representada por Deus, o que o distanciaria de um mero subjetivismo individualista.
Finalizando com o escocês David Hume (1711-1776), vemos que este pensador produziu uma crítica ao raciocínio dedutivo através de um ceticismo teórico, pregando que o cientista deveria apresentar suas teses como probabilidades e não como certezas irrefutáveis. Tal atitude epistemológica, estendida ao convívio social, tornaria os homens mais tolerantes, democráticos e abertos. Seu pensamento repercutiu em Kant, na filosofia analítica do início do século XX (Russel, Wittgenstein) e na fenomenologia (Husserl, Scheler).
O empirismo proporcionou avanços formidáveis na ciência: com a valorização da experiência e do conhecimento científico, o homem passou a buscar o domínio sobre a natureza, o que fez surgir a metodologia científica, a qual se baseia no princípio de que todas as hipóteses e teorias devem ser testadas exaustivamente, em um contexto de observação do mundo natural e dos fenômenos, suplantando, dessa forma, a intuição, a revelação ou raciocínios a priori. Era a humanidade se reinventando mais uma vez.