A velhice até que é boa
também tem a sua graça
livra de muita trapaça
exageros e engodo.
As vezes ficamos gordos
em área inconveniente
quem nunca teve cintura
até fica mais contente
eis que culpa a velhice
e vamos seguindo em frente.
Outra coisa que gostei
foi de acordar mais cedo
antes dormia um bocado
disso não faço segredo
dormia mais que S. João
segundo meus companheiros
Agora acordo cedinho
imitando outros bichos
aproveito mais o dia
parece até que espicho
mexendo nos cacarecos
costurando outros vestidos
com o resto de meus sonhos
que estavam adormecidos
Estou gostando da amiga
ela me trouxe mais calma
mais alegria na alma
antes eu tinha no corpo
agora sou menos escopo
tenho sido mais centrada
outra coisa que gostei
foi ver meus netos nascendo
agora é que entendo
quando minha mãe falava:
"filha, a nossa alma
fica mais rica com os netos".
Eles são do meu afeto
coroas no meu reinado!
Amigo agora eu te digo
só não gosto dos achaques
dói a perna, dói o braço
as pernas ficam mais finas
essa é a triste sina
dos velhos, mulher ou macho.
Mas temos muita vantagem
somos bem mais resolvidos
olhamos menos pro umbigo
vemos por todos os lados
enxergamos o escondido
escutamos o calado.
Coisa boa na velhice:
a contagem regressiva
agora levamos a vida
antes, ela nos levava
levamos menos porrada
e damos mais gargalhadas.
Apaixonei-me por Klima
quem sabe alguém me anima
a entender a ironia…
Não gosto de ambiguidade
de mentiras ou engodo
prefiro o todo errado
meio torto, atrapalhado
ao santinho do pau oco
Mas vejam que absurdo
minha Valsa dos Adeuses
percebi que o percevejo
sempre esteve na garganta
com seu odor que espanta
até quem não se asseia
Oh meu Deus! Eu quero ajuda
para sair da armadilha
da cobra que se enrodilha
agora em meu pescoço
em minha mente em alvoroço
qual biruta sem controle
meu avião fez um pouso
aterrissou apressado
sem rumo desengonçado
se transformando em destroço
Oh Jesus! Eu quero tanto
que me ajudes neste conto
ou romance do Kundera
Meu Senhor, ai quem me dera
jamais ter sido o algoz
quando em verdade, era a vítima
de um script encenado
num carnaval com um reinado
comandado por um momo
quase nu, sem adereço
apenas a fantasia
em seu mundinho pelo avesso
menor que casca de noz!
Imaginava eu que herdaria os negócios da família
foram quatro gerações
viajei ao exterior
fui à meca daquele ofício…
Ao retornar
queria aprender com outros mestres
conviver e me aperfeiçoar sob o comando de pessoas mais exigentes
Os empregados de meu pai poderiam ser complacentes comigo
eu precisava de excelência e para obter excelência se faz necessário rigor.
E assim fui me aperfeiçoando
preparando-me para aprender com meu pai
alguns segredos daquele ofício,
estavam guardados com ele
toda a simplicidade e beleza
das coisas singelas
todo o requinte
que só encontramos na natureza
da vida, das coisas, das pessoas…
Um dia recebi uma ligação
meu pai se fora ainda jovem
em nossa cultura 55 anos se é jovem em seu ofício
voltei para assumir e continuar com os negócios da família
mas sem o meu pai para me indicar os caminhos...
Procurei os meus próprios caminhos
nas memórias da infância
na riqueza dos rios,
da floresta e das montanhas.