Gosto muito do mês de dezembro. Mesmo sendo o último do ano, para mim funciona como se fosse o primeiro. É nesse mês que eu me sinto mais feliz, com a perspectiva de que alguma coisa possa mudar, nos dias que seguem.
É nessa época que costumo fazer uma retrospectiva de minha vida, avaliando o que deu certo, o que deu errado, o que falei, quando devia ter me calado, o que calei, quando precisava mesmo era ter falado.
É nessa época que costumo fazer uma retrospectiva de minha vida, avaliando o que deu certo, o que deu errado, o que falei, quando devia ter me calado, o que calei, quando precisava mesmo era ter falado.
Faço sempre uma listinha com planos (quase sempre “infalíveis”, como os de Cebolinha). Porém, elencar as possibilidades me traz a sensação de que estou viva e de que posso, sim, trilhar, ainda, novos caminhos.
Desse modo, emagrecer, aprender inglês, voltar a tocar violão, viajar, arrumar minha casa, a ponto de não deixar nada fora do lugar, ler os inúmeros livros que adquiri em 2022, ser mais tolerante, equilibrada e até iluminar mais o Natal do ano que vem estão no rol dos sonhos de dezembro para o ano que vem.
Estou, no entanto, reticente quanto a um item dessa lista do amanhã. Não o escrevi ainda de forma concreta, porque quando eu o fizer, já estarei a um passo de ter que tomar a decisão. Vejamos.
Em março de 2023, completarei 45 de vida profissional oficial, com contratos, concursos e tudo. Entre os itens de minha listinha de dezembro está a palavra proibida, mas agora necessária: aposentadoria. Estou tentando me preparar para esse momento, que há de chegar, por mais que eu o esteja adiando.
Tenho consultado pessoas e o que mais escuto é: “Você tem o que colocar no lugar do trabalho? Não vai se arrepender?”. Outros me dizem: “Que inveja de você! Quem dera eu pudesse!”.
O que mais pesa, na verdade, é que não quero ser a professora do século passado, que não consegue mais dialogar com seus alunos, porque a linguagem com que se comunicam muda todo santo dia e eu não conseguiria acompanhar, a contento, essas mudanças.
Talvez seja melhor parar enquanto ainda posso ser inovadora, enquanto acredito que a educação pode mudar as pessoas, enquanto não tem a ver com desistir, mas com entender que outros precisam construir nesse lugar.
Não é fácil se desprender. Não é fácil envelhecer e pensar que já não se consegue mais fazer o que se fazia antes. Mas é preciso abrir espaços, preencher vazios, como digo no meu poema Completude: O equilíbrio/não será/utopia,/se você/enche/os vazios,/desfaz-se/de excessos/e inunda/sua vida/de poesia.