Aujourd’hui, dans nos sociétés évoluées, le loisir est une réalité familière.
Joffre Dumazedier (in Vers une civilization du Loisir, Éditions du Seil, Paris, 1962)
Joffre Dumazedier (in Vers une civilization du Loisir, Éditions du Seil, Paris, 1962)
Nos finais dos anos '50 (século passado), a civilização ocidental — curadas as feridas decorrentes da Segunda Grande Guerra — ingressou em uma nova era econômica, de elevada produtividade, com uma consequente melhoria de ganhos salariais e um aumento das horas disponíveis para um otium cum dignitate, a que considerável parcela da comunidade econômica de então chamou de “nova revolução industrial”.
Essa disponibilização de tempo, como não poderia deixar de ser, trouxe, em seu âmago, uma nova compreensão do papel que a Comunicação de Massa exerceria na sociedade, notadamente dada a união de dois de seus elementos, a qual, praticamente, criou um novo meio de considerável poder e expressão, já à época: a televisão, reunindo as facilidades da imagem e do som em um mesmo processo, fundindo a velocidade e a mobilidade do rádio à confiabilidade e encantamento do cinema. A televisão levou a sociedade sa época a procedimentos como o que anteviu o Sociólogo Joffre Dumazedier, em seu livro Vers une civilization du Loisir? (Éditions Du Seil, Paris, 1962).
Para ele, surgia, então, uma nova era, fundada não apenas na distração descompromissada, mas também na ampliação da informação desinteressada, a conduzir a humanidade a novas formas de sociabilidade, até o momento impensadas.
Nasce, assim, o que se chamou de turismo de massa, que se torna um fato social de primeira grandeza, notadamente em função da superação do empirismo individual, dada a atuação de organizadores de férias e especialistas de viagens que assumem a responsabilidade de harmonizar com eficiência os vários problemas porventura surgidos durante a vilegiatura do grupo.
Surgiram, destarte, desse procedimento, os dois ramos de operação do sistema: de um lado, os organizadores das viagens e, de outro, os provedores das necessidades e conveniências.
Isto se faz necessário, pois esses novos Quixotes e suas Dulcineias, bem como as tropas de cavalarianos da Távola Redonda e de pelotões de Cruzados, que se aventuram por este mundo mundo vasto mundo [...] (Poema de Sete Faces, de Carlos Drumond de Andrade) da mesma forma que seus antecessores, necessitam de comida, aguadas e abrigos, algumas vezes até especiais, pois como bem salienta Dumazedier, em seu estudo, ao mencionar que essas viagens, com algumas exceções, só se tornam possíveis depois da formação de uma reserva pecuniária, suprida com o excedente dos ganhos pecuniários amealhados durante um considerável período de vida, que já deixou algumas marcas nesses viajantes, impondo-lhes exigências especiais.
Estabelece-se, então, uma competição, muitas vezes acirrada, em que comunidades ciosas das suas potencialidades, se valem, com competência e dedicação, da disponibilização comunicativa que se lhe apresenta, para alcançar os prováveis visitantes, procurando acolhê-los, como bem aconselha Chico Buarque, no encantamento da voz de Nara Leão, “com açúcar e com afeto”.
Lamentavelmente, são poucos, nos tempos atuais, os conterrâneos que podem lembrar da crítica ácida que o advogado Mário da Santa Cruz fazia àqueles que, na época do encantamento por distritos industriais, nos prometiam ouro, incenso e mirra, a serem providos pelas indústrias que aqui se instalariam. Materializando essa crítica, sempre que passava em frente do Palácio da Redenção, o Doutor Mário, com o seu bem conhecido poder histriônico, levava o lenço ao nariz, para, como dizia, não ser sufocado pela fumaça, etérea como hoje se sabe, das indústrias a se instalarem lá no nosso Distrito, indústrias essas, que para ele, bem cabiam no dito popular Ninguém sabe, ninguém viu.
Apenas vãs promessas.
Infelizmente, a triste realidade daquela época parece se repetir, nestes tempos de agora, com mudanças de cenário e atores, mas com problemas assemelhados, especialmente no que diz respeito à operação do sistema, notadamente no campo dos insumos fundamentais a essa “indústria sem chaminés”, embora já se vislumbre alguns progressos.
Conquanto nossos atuais promoters (turismólogos etc.) vivam a alardear uma capacidade de atração de hordas de vacanciers para ocupar o pretenso quadrilátero turístico, a triste realidade com que nos deparamos é termos muito pouco a oferecer, não sabermos administrar esse pouco, nem explorar, com eficácia, o poder de atração oferecido pelos meios de comunicação coletiva insertos no vasto mundo.
Nosso produto básico e quase único – praias –, caminha a passos largos para uma degradação inconcebível e o principal ponto de vendas de um artesanato já não tanto original, situado em pavimento elevado, de um Mercado pouco atraente, logo submete os seus ousados visitantes a uma prova inicial de capacidade cardiorrespiratória, submetendo parte dessa clientela a um esforço excessivo, que pode não se ajustar às suas condições físicas, obrigando-os a subir, caminhando, uma íngreme rampa, onde uma escada rolante seria muito bem recebida, além de não lhes facilitar nem mesmo a graça de prover local onde estabularem seus modernos Rocinantes.
Embora tenhamos de considerar que já não seria dada oportunidade a Dr. Mário Santa Cruz para empreender seu combate quixotesco, pois os dragões que ele antevia – a fumaça das indústrias, já começa a se materializar, dada a notável criatividade de uma parcela de nosso “trade” turístico, que, com uma invenção marcante – as churrasqueiras de tambor, está acrescentando o componente “fumaça” aos avanços tecnológicos porventura promovidos. Podemos, então, parafraseando os compositores Braguinha e Alberto Ribeiro, com sua marchinha carnavalesca Yes, nós temos bananas, bradar, alto e bom som, "Yes, nós temos fumaça!”.