SONETOS
NOUTRA VIDA
Noutra vida escrevi uns versos puros,
Tão singelos, amáveis, verdejantes;
As rimas em estrofes sussurrantes,
Que as flores exultavam além-muros.
Harmônicos, formavam melodias,
Poetas se apinhavam ao meu lado;
Na alvorada, o momento cobiçado,
Alegres recitavam poesias.
Rubras rosas se abriam radiantes,
Pássaros pipilavam saltitantes,
E no céu reluziam as estrelas.
Amantes se deitavam no jardim,
E diziam sorrindo para mim:
Namoramos à noite só pra vê-las!
MILAGRE
No momento tristonho da saudade,
A frescura da noite me enlaça;
As árvores balançam numa praça,
E oro pra surgir a claridade.
Venha célere, doce amanhecer,
Sem que eu perceba leve a minha dor;
Vou entregar-lhe a mais mimosa flor,
Com mais sincero gesto agradecer.
Um lindo Sol ao longe vem surgindo,
Lembrei-me de nós dois no tamarindo,
Fazendo juramento à natureza.
E a saudade, que se encontrava triste,
Gritou assim: _ Milagre, sim, existe!
É o Grande Deus agindo com grandeza!
DESPEÇO-ME DA VIDA
Um dia, virarei um passarinho,
Voarei para um lindo paraíso;
Nas faces mostrarei largo sorriso,
Terei um belo encontro bem cedinho.
Cantarei melodia com carinho,
Com mote suscitado em improviso;
Poema em redondilha, bem preciso,
Que compus numa noite, assim, sozinho.
As nuvens se abrirão numa avenida,
Meus versos boiarão em mil procelas,
No momento sublime da partida.
Direi pra minha amada, a mais querida:
Vou morrer de manhã, abra as janelas,
Só gratidão... Despeço-me da vida.
O ARCANJO RAFAEL
Foi só mais uma noite, já passou,
Senti punhal em mim, dilacerante;
Ouvi a voz da morte, e neste instante,
Pensei: a vida agora se acabou.
Um anjo pelos braços me pegou,
Confesso, ele foi determinante;
No sonho foi um bravo visitante,
Sentiu a minha dor, e me curou.
Sussurrou uma prece ao meu ouvido,
E disse-me estar sempre ao meu lado,
Pois era esse o seu nobre papel.
Ele também tinha sobrevivido,
E agora eu vou dizer, o arcanjo alado,
Atende pelo nome, Rafael.