Umberto Eco escreveu certa vez que não gosta de usar reticências. O motivo é que esse sinal de pontuação sugere arrogância. Ao antecede...

RS

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Umberto Eco escreveu certa vez que não gosta de usar reticências. O motivo é que esse sinal de pontuação sugere arrogância. Ao anteceder uma palavra ou uma oração de reticências, parece que o escritor está dizendo: Preparem-se, que eu vou dizer uma coisa espirituosa. Como vocês certamente não perceberão, estou preparando seus espíritos com esses três pontinhos...”.

Sempre me lembro das palavras de Eco quando me deparo com um rs em textos que recebo na internet. Na internet, sim, pois até agora só vi esse agrupamento de letras no espaço virtual. Como todo internauta sabe, sua função é informar que o autor está sorrindo.

Serão essas letrinhas necessárias? Seu objetivo é realçar ou induzir? Se o que o autor diz é mesmo engraçado, precisamos delas para captar o humor contido na mensagem? E se não é, elas por si conferem graça ao texto? Enfim, quem as usa desconfia da própria veia humorística ou supõe que ela existe e o leitor -- em sua tacanhice intelectual -- não a percebe?

O rs é uma espécie de pleonasmo. Destaca o que se depreende ou se deveria depreender da mensagem. Mas, vá lá, não é de todo inútil. Sua presença dá à conversa um ar franco e cúmplice. Lembra as rubricas de teatro, aquelas indicações entre parênteses por meio dos quais o autor instrui os atores sobre o tipo de emoção que devem imprimir a cada fala. Também nesse caso o recurso é inútil, pois um bom ator sabe, pelo que está no texto, se deve carregar as palavras de medo, ternura, raiva ou o que for. A diferença entre elas e o rs é que não aparecem no texto.

Como o que é moda tem força, vez por outra me pego usando essas letrinhas. Com elas me asseguro de que o leitor vai captar minhas intenções. Tenho-as achado tão úteis, que fico pensando se não deveríamos criar outras abreviaturas no mesmo estilo. Por que só destacar o riso? O homem é um animal que ri -- o único, segundo dizem -- mas que também se entendia, se disfarça, se encoleriza. Nem sempre deixamos transparecer esses estados negros da alma. Por que não enfatizá-los com os sinais devidos, para que o leitor perceba o que de fato se passa dentro de nós?

Além disso, um dos problemas de quem escreve é lidar com a ambiguidade das palavras. Às vezes o escritor produz várias versões para chegar ao que quer dizer, e nem assim consegue. As letrinhas concorreriam para contornar essa dificuldade por tornar inequívoca a mensagem.

Vamos adotá-las, então. Com o intuito de disseminar o novo hábito, apresento algumas abreviaturas possíveis: rv (raiva), dsp (desapontamento), mnt (mentira), inv (inveja), alv (alívio) e assim por diante. As letras poderiam duplicar, triplicar ou quadruplicar conforme a intensidade do sentimento que revelam. Para terem uma ideia, vejam como as frases abaixo ficam bem mais expressivas com elas:

- “Por que você não estava na porta do cinema às oito, conforme combinamos rvrvrvrv?”; - “Sua mãe vai mesmo viajar conosco? dsp”; - “Pessoas como você tornam o mundo melhor mnt”; - “Seu vestido é muito bonito, mas um pouco ousado inv”; - “Então você vai se mudar para outra cidade? Que pena! alvalv”.

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