Ontem pela manhã descubro que brotaram cogumelos na plantinha do meu banheiro. À tarde se abriram gloriosos, à noite começaram a murchar e hoje, descubro que estão secando.
Paradoxo da vida. Amanhecer e morrer durante vinte e quatro horas.
Conosco não é diferente. Cheguei aos sessenta anos questionando o que virá. Estou no penúltimo ciclo do cogumelo… começando a murchar?
Por mais que o ciclo se prolongue e que eu viva por mais alguns anos, inevitavelmente agora é o caminhar para expirar.
Se alguém disser que envelhecer é bom, que é um presente se tornar madura, que fazer sessenta anos é uma benção, eu discordo veementemente.
Não é. Essa idade é pesada, pois forçosamente nos faz enxergar o futuro como algo próximo do fim, a se deparar com o medo das doenças que deverão aparecer, a se deparar com o medo da solidão, com o medo de ficar dependente de alguém que nos cuide.
Quem me conhece, sabe que sou otimista, que minha alegria é constante. Então porque esse lamento causado pela passagem de idade? É pela fantasia que insistem em transformar essa época em “melhor idade”, querem nos forçar a acreditar que se fizermos exercícios, tomarmos determinadas vitaminas, comermos o que é certo, teremos uma boa velhice e não é bem assim. O tempo é inexorável em nos marcar corpo e mente.
Não deixaria de viver nenhum segundo do que vivi, não desmancharia nada do passado, pois mesmo as perdas e dores me fortaleceram. O que me assusta é não conseguir sentir a velhice. Nada mudou a não ser a chegada das ruguinhas, dos quilinhos a mais e da flacidez.
Meus genes me presentearam com uma saúde perfeita, nunca fiquei doente. Continuo dando sonoras gargalhadas, escrevendo contos eróticos, falando besteiras e tendo a mesma agilidade e destreza que tive ao longo da vida. E, se isso é atributo, sou eletricista, encanadora, hábil em manejar uma furadeira, pintora de paredes, mas sou péssima cozinheira e não pretendo e nem ouso mudar isso.
Meu coração, apesar de quebrado, não é estéril e vive intensas paixões quando lhe é conveniente. Esqueço a idade quando quero seduzir ...olhos não envelhecem e é por eles que entra a paixão. Sentir desejo e saber-me desejada é celebrar a vida.
Gosto de viver sozinha e acho que essa é a parte boa da maturidade. Ser livre não tem preço e por enquanto, defendo vigorosamente meu território.
Sim, a idade me permitiu ser mais sábia, mais observadora, mais extravagante, falar o que quero e ignorar o que não me faz bem, mas confesso a vocês, nada disso compensa o fato de ter ficado injuriada ao comemorar sessenta anos.
O pequeno ciclo de vida desse cogumelo mexeu com meus medos...