Nem os ossos estão findos! Perpetuam-se por milênios atestando as transformações da vida biológica. Parece clichê, mas é ciência, dize...

Jamais finados!

dia finados espirito morte sintonia
Nem os ossos estão findos! Perpetuam-se por milênios atestando as transformações da vida biológica. Parece clichê, mas é ciência, dizer que “na natureza nada se perde”, tudo se renova.

Nunca tive afinidade “religiosa” com o ambiente de cemitérios. Poética, sim, pois nos ensinam sobre a realidade dos ciclos vitais, que alguns preferem esquecer. E há cemitérios bonitos, bucólicos, bem cuidados, muito arborizados, que servem até ao lazer contemplativo, confraternização e piqueniques.

Ian Taylor
No dia dos finados que não se findaram, apenas deixaram as roupas que vestiram seus corpos, é grande e festiva a presença de pessoas saudosas dos entes que partiram. Cultos, celebrações, efusivos e recolhidos, individuais e coletivos, multiplicam-se pelos “campos santos” em sua memória. Há os que só se lembram dos seus, no dia dos “mortos” que não morreram, nos dias de aniversário, como quem só se lembra de Jesus no Natal. Ou apenas do peru e dos presentes…

Hoje é um dia assim… Os cemitérios estão cheios de gente, flores, velas. Nada contra. É sempre louvável homenagear os queridos ausentes. Qualquer forma de amor vale a pena - outro clichê, com a licença do professor Chico Viana. O bom seria que essas lembranças se mantivessem independentes da convenção que as traz.

O nome do dia - Finados - também é quiçá equivocado. Ninguém se finda. Há bilhões de anos que o universo se renova, estrelas viram pó e se multiplicam em novas, gigantes ou anãs. A nossa Terra, que se inaugurou incandescente, resfriou-se, reciclou-se em várias eras, produziu vidas mil, seres que se foram, que se transformaram, e outros que apareceram. E assim vamos…

USGS
Corpos se criam de células, desenvolvem-se em embriões, nascem, envelhecem, murcham, mas o princípio vital não se extingue. O espírito se desliga na hora em que o corpo perece, mas segue com a consciência firme a evoluir em outras frequências. A energia vital é como a elétrica, o magnetismo, não se vê com os olhos. Os espíritos também não. Mas existem. A voltagem movimenta a máquina, e quando se corta a corrente, o ventilador pára. Mas a energia não morre, está lá, na tomada, no cabo que a conduz, na origem das usinas que a produzem, como em todo o Universo.

Há 37 anos minha mãe partiu. Creio que só fui visitar o túmulo onde estavam seus ossos, umas duas vezes, após o enterro. Depois de dois anos, assistimos à exumação do corpo. Eu, papai e meu irmão. Um momento forte, introspectivo, chocante mesmo. Incrível como os cabelos dela estavam intactos, e emolduravam o crânio com feições que ainda a lembravam. E o mano, pleno de sabedoria zenbudista, contemplava o ritual ao som de Mike Oldfield, nos fones de ouvido…

ALCR
Tudo se juntou em um saco, dentro do mausoléu. Alguns anos depois, soubemos que os ossos sumiram. Quisera tenham ido servir a alguma faculdade de medicina…

Daí, nunca mais voltei lá. É um lugar em que não encontro sintonia com o sentimento que nos une. Papai se foi há mais de três anos. Seu corpo foi sepultado no mesmo túmulo, que nem sei como está. Prefiro me lembrar dele, de minha mãe, e de todos os queridos ausentes nos locais em que fomos felizes. Os ambientes impregnados das boas recordações estabelecem sintonia com os espíritos amados com muito mais força do que à frente de um mausoléu, um local que eles, na vida terrena, não costumavam frequentar e nada tem a ver com o amor que nos mantém conectados.

ALCR
Contudo, respeitemos o sentimento de cada um, pois o que importa é a realização da ligação afetiva, que independe do lugar, da cidade, ou de onde quer que estejamos. Que se vá aos cemitérios, aos rios e mares onde jogaram suas cinzas, assim como onde encontremos afinidades e energias que nos mantenham vivos. Jamais finados!

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. José Nunes2/11/22 12:39

    Você fez boas colocações. Dia de lembrar de entes que partiram é todo dia.

    ResponderExcluir
  2. E isto mesmo, caro amigo.
    A matéria se foi, mas a memória é que persiste.
    São as lembranças de todos os dias, todas as horas que povoam nosso sentir, à espera de seguir o mesmo caminho.
    Que sejam sempre de luz.

    ResponderExcluir

leia também