Segundo pesquisa recente feita na Inglaterra, os homens preferem o futebol ao sexo. Entre pernas cabeludas correndo num campo e pernas depiladas movendo-se sobre um colchão, eles preferem as primeiras.
Isso deixa intrigados sexólogos, antropólogos e terapeutas comportamentais, que não conseguem entender como se pode trocar, por exemplo, um orgasmo por um grito de gol. Ou os pequenos carinhos que antecedem o ato sexual, pelos gritos obscenos com que se xinga o juiz.
Alguém com veia poética poderá dizer que o grito de gol é um orgasmo da alma. Ou que a ofensa à mãe do juiz expressa o impulso edipiano de valorizar, por antítese, a própria mãe.
Há muitos caminhos que aproximam, pelo menos no reino da metáfora, sexo e futebol. Talvez por isso mesmo seja intrigante valorizar-se um em detrimento do outro.
A explicação certamente se deve ao que chamam de “mística”. Algumas correntes tântricas consideram o ato sexual uma experiência transcendente. Mas isso não se compara ao fervor religioso com que o torcedor cultua a camisa do seu clube.
Flamengo, Botafogo, Corinthians e tantos outros não são apenas ajuntamentos de homens jogando bola. São credos em função dos quais pequenas multidões se unificam e por eles gritam, sonham, choram, chegando ao limite de matar ou morrer. Não é à toa que o futebol toma emprestadas às guerras algumas de suas imagens, como a de “dar a vida” por um clube.
O clube é a única coisa que não existe, e talvez por isso exista demais. Tudo nele é efêmero – os jogadores, a presidência e a própria sede. Um time pode, de um ano para o outro, mudar todo o seu plantel – mas nem por isso perderá sua essência.
Tem até os que modificam o padrão da camisa, ou seja, abdicam do elemento simbólico que por excelência incita a paixão do torcedor. Mesmo de camisa nova, continuam sendo Santos, Palmeiras, Fluminense.
A palavra “mística” remete a um além de fantasia e mistério no qual encontramos um sentido. Desse vazio, pelo qual de alguma forma nos ultrapassamos, nasce a força de crer. Em religiões ou em times de futebol. E não adianta investir contra ele nossos míopes óculos intelectuais.
Não é de estranhar que hoje a mulher, cada vez mais despida de transcendência, perca prestígio e apelo quando confrontada com o futebol. Foi-se o tempo em que seu corpo era um sacrário; seu colo, um lírio; seus olhos, janelas misteriosas para o infinito.
Hoje ela é mais concreta, corpórea, real, e por vezes diz palavrão. Está muito longe daquele fascinante mistério que faz com que uma bola, depois de quicar numa direção, tome de repente outra e entre na trave adversária.