Pelos finais do século XIX, há um bom tempo a franco filia se espalhara pelo mundo levando sua influencia e reverberando daquela pro...

Ernestina III

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Pelos finais do século XIX, há um bom tempo a franco filia se espalhara pelo mundo levando sua influencia e reverberando daquela proeminência cultural (afinal tinha-se ali na pós Gália Cisalpina, o próprio berço da Europa central) constantemente revalidada por pontos diversos da atividade intelectual, como ciência, matemática, artes e literatura, sem falar nas suas recentes diversificações pelos rumos da moda e das estéticas corporais, com ênfase no desenvolvimento da indústria de cosméticos e produtos de beleza.

As várias novidades industrializadas estavam consubstanciadas pela introdução da primeira loja de departamentos do mundo, que acarretou o surgimento da publicidade diária através da reinvenção da imprensa escrita, de maneiras que esta influência varria o mundo, influenciando comportamentos que iam da Rússia de Tolstói à
Kyle Glenn
América de William Faulkner, passando pelo Brasil de Machado de Assis, e não só o cinema americano – que recentemente havia adquirido a máquina de filmar dos irmãos Lumière –; como a produção de folhetos de cordel no nordeste brasileiro, apesar da diferença abissal de poder econômico e importância regional de suas origens, se constituíssem cada um por seu lado em alternativas para a difusão poderosa do rádio, uma vez que o jornal diário ainda iria demorar um pouco para se firmar de vez no Brasil, que foi o último (pra variar) país da America Latina a instalar uma imprensa noticiosa e informativa.

As novas formas midiáticas, híbridas como qualquer delas, tinham esse condão de produzir interações sociais e simultaneamente propagar ideias (“fazer a cabeça”), o que tanto acontecia na Times Square em Nova York com suas iluminadas vitrinas e salas de cinema quanto no mercado público de Patos, onde aconteceria o mais famoso desafio de viola de todos os tempos: a peleja entre Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira. Com seu apogeu atingido na segunda metade do século XIX, o cordel, ou narrativa em verso e acabada de migrar da Paraíba para Recife, não tardaria a ganhar os vastos territórios do Ceará e do Piauí.

Christine Roy
Seria oportuno para mim lembrar a figura do meu bisavô paterno, Jonas Júlio Lacet, a quem não conheci, nem sequer seu filho Cicero Júlio Lacet, de quem herdei a arte do desenho. Jonas foi um comerciante tropeiro e filho (ou neto?) de franceses, vendendo seus produtos importados da França diretamente para os rincões de Matureia, Desterro, Mãe D’água, Imaculada, Teixeira e adjacências: Com sua tropa de burros apanhava suas importações inicialmente no porto de cabedelo, depois com o avanço da estrada de ferro promovido pelos ingleses em direção ao Algodão Mocó sertanejo, conseguia recolhê-las na estação de Alagoa Grande, o que fez até o dia em que a estrada de ferro andou o suficiente para que ele as pudesse receber em Patos, a 20 quilômetros de Teixeira (foram inicialmente 30 km., porém daqueles tempos até hoje a extensão urbana de Patos cresceu 10 km em direção à Serra de Teixeira) e mil metros abaixo do Pico do Jabre.

Winelicious
Naqueles começos de século XX, num país totalmente desindustrializado como era o Brasil (o tratado de Methuen, entre Inglaterra e Portugal, havia proibido até o fabrico de molduras para janelas no Brasil), o que, na verdade, comerciava Jonas, subindo e descendo serras com sua tropa de burros? Produtos da indústria francesa, como alguidar, frigideira, porta-copos, pincenê, lupa; relógio de pulso, bolso, parede e cômoda; soutien, roupa pronta, lingerie, loção, perfume, creme para cabelo, e sabe deus mais o quanto.

Novidades utilitárias eram a marca predominante de seu comércio, de modo que se alguém falasse de alguma novidade surgida em algum canto do mundo, era inevitável ouvir o seguinte comentário: “Espere para ver nas cargas de Jonas”. Na verdade, Jonas Julio Lacet permitia a Ernestina, bem como a seus parentes mais abastados, dispensar ou não o Lhoyd Brasileiro na pretensão de renovar o guarda-roupa.

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