Sentada em um banco da rua Sete, vejo a brisa fria do outono desfolhar os dentes-de-leão no gramado. A luz incendeia as folhas das árvores. É uma tarde esplêndida, indiferente ao rugido de inquietação que ecoa pelas esquinas do mundo.
Tomo o caule do dente-de-leão entre os dedos e o examino, sem arrancar. Tão frágil. Qualquer sopro pode desfazer o elaborado desenho. O instante me envolve em uma poesia simples.
A vulnerabilidade da planta me faz lembrar de minha própria vida. Quem sabe o que me aguarda? Que brisas podem me desfazer? Eu, bolha de sabão flutuando sobre alfinetes.
Olho em torno e vejo que andamos famintos de algo imponderável, olhando uns para os outros com desconfiança, a respiração descompassada, os olhos traindo medo. As circunstâncias nos atiram de um lado para outro. Nada controlamos. Tudo tão incerto na vida, que é como o mar, feito de perigos ocultos sob sua grandiosa beleza.
Ondas quebram na praia dos nossos dias, arrastando pelo corpo ardores e segredos, certezas adquiridas, palavras solenes, pavores infundados. Vida e mar.
O sol se infiltra pelas folhas de bordo e tudo parece tão esplêndido e calmo que por alguns segundos esqueço os lamentos do mundo em permanente crise. Enquanto houver instantes assim, de dourada luz, serei capaz de acalmar o tremor que me toma as mãos, de asserenar a respiração. Só preciso olhar na direção certa.
Pouso os olhos no dente-de-leão. Um vento mais forte o desfolhou. Seus pedaços flutuam pelo parque, carregados pela brisa, e logo pousarão no gramado. Daqui a alguns meses renascerão sob a forma de minúsculas flores amarelas e brancas. Gosto disso.
Sei que em algum lugar, no fundo macio do meu peito, algo resiste, não cede ao desespero. Algo grande, treliça de aço a blindar o meu pequeno coração. Meu indomável, valente coração.