As últimas eleições dividiram o Brasil. Poucas vezes se viu numa disputa política tal exaltação de ânimos, que levou a mortes e agressõ...

Armistício verde-amarelo

politica futebol eleicoes copa qatar catar
As últimas eleições dividiram o Brasil. Poucas vezes se viu numa disputa política tal exaltação de ânimos, que levou a mortes e agressões. Amigos, colegas de trabalho e mesmo parentes brigaram a ponto de romper laços afetivos cultivados há muitos anos.

Li com estarrecimento o relato de uma mãe que expulsou o filho de casa porque ele votara em um candidato que não era do gosto dela. Isso é um tanto paradoxal, pois um dos ideários dos partidos era justamente a preservação da unidade familiar.
politica futebol eleicoes copa qatar catar
Fotokalde
Não deu certo, e isso mostra que mesmo a decantada família não está imune às perturbações que vêm de fora.

A tendência, contudo, é que os ressentimentos se abrandem e que amigos voltem a se encontrar, colegas de trabalho amaciem a cara feia com um sorriso e as brigas familiares se reduzam às dimensões tradicionais – sem isso de mãe abominar quem lhe saiu do ventre.

Há uma razão maior para que superemos as desavenças e façamos as pazes: a Copa do Mundo. Nesse evento a bandeira do Brasil deixará de ser privativa de um ou outro grupo e simbolizará para todos o amor pela pátria. Muitos que recentemente discutiam qual ideologia era melhor para o País dentro em breve vão se dar as mãos e torcer juntos.

É claro que haverá os renitentes. Esses tratarão de politizar a Copa e ver na eventual conquista do título uma espécie de endosso à vitória do candidato recém-eleito; já nos deparamos com atitude semelhante em mundiais passados, e não há por que deixar de acontecer agora. Gente assim vai torcer contra a Seleção e, se for o caso, considerar o fracasso do time uma prova de que escolhemos mal quem vai nos governar. Mas não serão muitos.

A Copa fará com que a imprensa tire um pouco o foco dos políticos e o direcione aos jogadores. O comportamento de Neymar e de seus companheiros ocupará mais espaço na mídia do que os nomes cotados para ser ministros.
politica futebol eleicoes copa qatar catar
Fotokalde
Ou pelo menos a atenção será dividida, pois durante um bom tempo o brasileiro estará mais interessado no esquema adotado por Tite do que nos novos ministérios que o presidente eleito irá criar. Pouco importa que ele fure o teto de gastos, desde que o nosso ataque consiga furar o bloqueio defensivo dos adversários.

Acredito na pacificação, ainda que momentânea (e toda pacificação é provisória, pois o ser humano costuma se entediar nos tempos de paz). Acredito que nos lares e nas mesas de bar as discussões só vão girar em torno dos acertos e desacertos do técnico da Seleção e que o nosso ânimo belicoso terá como único alvo a figura do juiz (caso ele, “roubando”, concorra para a derrota do escrete canarinho).

Por sinal, ainda se fala em “escrete canarinho”, ou estou dando uma de passadista? Nelson Rodrigues usava muito essa expressão nas suas crônicas. Em sua delicadeza metafórica, ela traduz como poucas as aspirações do povo num momento em que a Pátria volta a calçar chuteiras (para lembrar outra expressão do grande Nelson). Associar nossa bandeira às cores de um inocente canário ajuda a esquecer a sofreguidão com que tantos, nem sempre de boa-fé, banalizaram-na durante a campanha.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. José Mário Espínola8/11/22 07:06

    É triste, mas é verdade: o Brasil vai confirmar que é a terra do samba e do futebol. Como foi mesmo que o presidente francês Charles De Gaulle disse?

    ResponderExcluir

leia também