Alguns leitores pensam que eu crio as histórias que conto. Ocorre que a realidade é tão maravilhosa que nenhuma mentira se lhe compara....

A mentira é melhor?

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Alguns leitores pensam que eu crio as histórias que conto. Ocorre que a realidade é tão maravilhosa que nenhuma mentira se lhe compara. Um exemplo simples são as histórias de Boréu.

Uma delas dá conta de que ele saiu do interior da Paraíba rumo a São Paulo numa época em que possuía um caminhão. A carga eram abacaxis que ele entregou na Ceagesp e posteriormente rumou para uma pensão bem mixuruca no bairro do Bixiga, onde alojou-se no mesmo quarto que seus dois caga-lonas.
Kevin Bhagat
Mais tarde ligou para seu irmão Eduardo, um dos mais famosos cirurgiões plásticos de São Paulo.

Ao saber que o irmão estava na capital paulista, Eduardo convidou-o para saírem à noite com algumas das belíssimas amigas do médico, todas da mais alta sociedade. Pediu apenas a Boréu que fosse para a frente do melhor hotel dos Jardins porque as moças não poderiam saber que ele estava hospedado num muquifo. Também pediu que Boréu fosse monossilábico nas conversas, já que eram moças educadas na Suíça e não entenderiam muito bem o linguajar, como direi… peculiar do paraibano.

Às tantas horas, Boréu estava no local indicado esperando pela noitada. Havia comprado uma roupa que achou ser o fino da moda; camisa volta ao mundo, calça jeans e uns congas bicolores. Para completar a pose de rico levou consigo a maleta de ferramentas do caminhão, achando que a tomariam por uma mala 007, daquelas que os executivos usam até hoje.

Pouco depois Eduardo encostou em seu Mercedes conversível, quatro portas. Ao lado dele uma morena deslumbrante, sua namorada, e sozinha do banco traseiro, à espera de Boréu, a loura mais espetacular que ele já vira. Atriz de cinema, no mínimo. Boréu correu até o carro, porém tropeçou e caiu.
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Kevin Bhagat
A maleta abriu, espalhando pela calçada duas chaves de fenda, um alicate, um rolo de arame e uns pacotes com trapos. Ainda bem que o carro estava um pouco à frente e a futura mãe de seus filhos (a sua paixão já estava nesse nível) não viu aquela presepada. Recomposto, Boréu entrou no carro. Eduardo baixou a capota e foram em busca da boate da moda. Às conversas das moças ele respondia somente com sorrisos.

Acontece que a tal boate funcionava próxima ao bairro do Bixiga e em determinado momento o Mercedes parou num sinal vermelho e do nada surgiram os dois caga-lonas que atravessavam a rua e viram Boréu sentado ao lado de uma belíssima mulher, num carro espetacular. Partiram para cima dele: "- Boréu, miséra, cadê a lona do caminhão? Nóis tá morrendo de frí”. Que vocês imaginem o final.

Essa é uma história rigorosamente verdadeira, que poderá ser melhorada com alguns poucos retoques. O que eu me pergunto é se esses retoques transformariam a história verdadeira numa mentira.

Curiosidade do editor: o que teria sido feito da lona do caminhão de Boréu, ao se instalar na pousada com os colegas?... Quem sabe serviu para pagamento da hospedagem?...

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