Acorda. Corre pra varanda e olha o céu. Apesar das centenas de mãozinhas que queriam lhe prender na cama, reage, bota um cropped e vai caminhar!
Uma volta no açude CAMINHANDO... Não tem joelhos pra correr [usa sempre esse argumento pra convencer seu comodismo]. Olha o mundo em volta, mais do que caminha. Dá bom dia pra cada olhar que cruza o seu. Nem todos respondem. Segue.
Passa um homem de bicicleta sem camisa e com uma bermuda cor da pele [dele]. Olha de novo. Parece que está pelado. Tem uma crise de riso. Desvia o olhar para o homem não perceber que estava rindo do seu look nudismo fake.
Passa outro homem [de roupa social, tênis e uma bíblia na mão] correndo, gritando palavras de fé [a dele] e olha pra ela de cara fechada. A fé [dele] é incompatível com a leveza e as viagens dela. Bikes chiques com pessoas se sentindo chiques com roupas e tênis coloridos fazendo seu treino diário, provavelmente seguido de um café da manhã "low carb", passam. Camelos simples com pessoas simples de mochilas nas costas a caminho do trabalho, provavelmente com um caneca de café fraco no estômago e uma quentinha pra comer no trabalho, também passam.
Pequenos seres de quatro patas, cobertos de pelos e pedigree "estampado no brilho da coleira", passam sem pressa. Inúmeros seres de quatro patas, invisíveis aos olhos daqueles que carregam os pequenos seres de quatro patas cobertos de pelos, ficam com fome e sede.
Uma mulher, com dificuldades para andar, passa quase correndo [E ela imediatamente pensa que joelho "bichado" não é argumento suficiente para nem tentar correr]. Duas mulheres, conversando em alto e bom som sobre seus relacionamentos abusivos ["quando ele vem com uma patada, eu dou logo duas..."], ficam paradas enquanto pessoas passam ignorando a violência que grita aos olhos.
Um homem, em situação de rua, faz da mureta do canal um palco e canta alto uma música que ela não consegue identificar. Parece estar em outro plano. O show é lindo, mas a cena dá aperto no coração.
Moças com corpo "perfeito" [para os padrões midiaticos] passam correndo mas a cara é mais de dor do que de prazer [nem sempre é fácil distinguir]. Dá vontade de perguntar: pra que isso, jovens? Um trio de mulheres mais velhas [bem mais animadas] passa com um "radinho" de pilha tocando um forró bem alto [quis ir atrás do trio "elétrico" e esquecer os afazeres do dia, mas segue seu percurso]. Pessoas formam uma longa fila na casa da cidadania.
O mundo real e as viagens da sua cabeça também seguem num longo papo. Pés de garças enfeitam os fundos do Céu. Prédios e palmeiras são mais belos refletidos nas águas. Tudo passa. Ela também. Volta pra casa. "Coração na boca. Peito aberto". Cicatrizando... A vida segue.