Um dos sobrados mais antigos e imponentes, com marcas da história de Serraria, agora está nas mãos de um novo dono, ganhou espaços para manifestações culturais, resgata o passado da cidade e das famílias que ajudaram no povoamento e desenvolvimento local, em louvável iniciativa das mãos de jovens empreendedores.
O sobrado de Doutor Ovídio, como chamávamos, é uma construção que remota aos primeiros anos do século passado, com largas paredes, altas portas e janelas espalhadas pelos dois pavimentos, chamavam a atenção.
Compondo o conjunto arquitetônico, igualmente belo, o prédio da farmácia de manipulação e consultório de Doutor Ovídio Duarte, pertencente a outro dono, também zeloso, que cuida com denodo deste patrimônio que embeleza nossa cidade.
Contemplar e andar pelos jardins e salas do sobrado é uma viagem ao passado nas lembranças da infância, é recolher sua história no que ficou retido na memória.
Construídos para servir de residência e farmácia do farmacêutico diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1909, ganharam novos espaços onde o passado de nossa gente estará presente, efetivamente.
Estas duas casas, que formam o conjunto arquitetônico e compõem a paisagem urbana ao redor do prédio da Igreja, com seu estilo eclético, testemunharam momentos históricos e discussões políticas da Velha e da Nova República, a partir de 1930. Cenas que estão na memória de muita gente. Nós, serrarienses, deveríamos olhar com mais atenção e se encher de sadio orgulho pelo o que testemunharam esses dois monumentos.
Vamos falar sobre o sobrado da praça. Registra a história que, nos entreveros políticos de 1930, parte da cidade ficou ao lado do presidente João Pessoa e os Duarte, juntamente com outras lideranças políticas, sempre firmes em suas decisões, aliaram-se a João Suassuna e ao desembargador Heráclito Cavalcanti. Aconteceu que, estava sendo realizado comício na praça promovido pelos Liberais, justamente em frente à casa dos Perrepistas, que, sentindo-se atacados por ofensas verbais, do alto da janela do sobrado ouviu-se um tiro disparado para o alto, o que causou correria e o encerramento dos discursos. Momentos depois, voltando à normalidade, os discursos retornaram, agora, menos agressivas.
Muitas outras histórias foram presenciadas nestes dois prédios, hoje transformados em farmácia e local cultural. Conversas em tardes silenciosas entre Doutor Ovídio Duarte, Severino Cavalcanti, Haroldo Fabrício, João e seu filho Mizael Mendes, Zezinho Afonso e tantos outros que formavam a paisagem humana. Fosse para falar sobre política, as grandes campanhas eleitorais em que Serraria, sede do município, e o distrito de Pilões protagonizavam campanhas eleitorais memoráveis, com o distrito de Arara sempre dando a vitória ao lado que se aliasse.
Este prédio, que foi testemunha de tantos momentos da história de nossa cidade, transformado em um lugar para o culto à gastronomia local e à cultura, onde as pessoas reverenciam o passado e revelam-se nos eventos culturais que acontecerão. Ao reviver o passado, vamos retirar lições que serão vitais à construção de um novo pensar e, de muitas maneiras, preservar a vida a partir da cultura. A atual geração, rica em conhecimentos e com acesso à leitura com maior facilidade do que há cinco décadas, no meu tempo de criança, poderá construir uma paisagem em que as pessoas contemplem a beleza do lugar.
Para se amar um lugar, a terra onde nascemos, é fundamental conhecer sua história. Vamos preservar nossos monumentos, resgatar a história dos que tiveram papel importante na edificação da Serraria, apesar de que belos monumentos tenham sido destruídos. Preservar um prédio tem o mesmo simbolismo de cultivar uma árvore.
Estendo minhas mãos amigas aos empreendedores Joselito de Meneses Pinheiro e a sua irmã, Natinelle de Meneses Pinheiro Santos, que tiveram a ideia de transformar o sobrado de Doutor Ovídio em um espaço cultural, um lugar de encontro. Um lugar para reverenciar o passado de nossa terra e construir sonhos que a arte possibilita