Desanimei ao ver o arrojo de eleitores tentando entrar e engrossar as duas ou três filas diante da escola onde votamos há mais de qua...

O que o selfie não pega

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Desanimei ao ver o arrojo de eleitores tentando entrar e engrossar as duas ou três filas diante da escola onde votamos há mais de quarenta anos. Mesmo com a abstenção registrada, as seções não cabiam de eleitor. Muita gente jovem a experimentar, consciente ou não, esse ânimo virgem da conquista de poder constitucional. Nas contas de TRE o dividendo enforcou o divisor.

Nesse desabrochar de consciência política ou de uso de Direitos não se pode exigir da menina que avisto, eu sentado numa cadeira que outro jovem se apressa a oferecer enquanto chega a minha vez, não se pode exigir da meiguice do seu rosto e de seu sorriso natural, do como e quanto custou aos que fizeram a história, aos que construíram esse momento, e, desde muito estão a gozá-lo, quantas prisões e enforcamentos foram gastados, geração após geração, para se chegar ao rápido e alegre selfie que ela é inserida.

TSE
No cotidiano, com a prática, muitas vezes se chega até a perder o título. Vem o avanço mágico da tecnologia e com o CPF se recupera tudo. Mas como esse naco de papel da velha gaveta de documentos acumula ideais, sacrifícios, promessas e fazeres sociais, políticos e religiosos de um povo tão socialmente desigual, milhões na absoluta miséria. E mesmo assim não consegue subtrair do seu natural a alegria!

Nisso só um detalhe me intriga: a fome de hoje, num país em tudo diferente do que José Américo se propunha fazer o governo dos pobres “porque o dos ricos já está feito”, há 85 anos, pouco alterou na oitava economia do mundo por ele atingida.

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Somos um exemplo, no planeta, da rapidez e segurança de como se apuram 150 milhões de votos. Uma ou duas horas após o último votante, sabemos o vencedor. Enquanto em 200 anos de vida constitucional, da escravidão até a nação livre de hoje, não se vê muita diferença do mais vital dos direitos ou mandamento, o de ter o que comer quem tem fome. Não vamos repetir aqui os milhões e milhões de famintos que o progresso técnico, econômico e social do Brasil o mais que conseguiu foi mudar de cuia ou de quenga para a embalagem do isopor. Fora isso, a revolução do ovo e do frango, igual para todos a partir de quando deixou de ser criação para ser indústria granjeira.

No mais, é extrema, absurda, a distinção de classe, nesse pleito ainda mais radicalizada. Comovem-nos os exilados da Ucrânia a fugirem da ocupação russa, irmãos eslavos. E passamos ao largo, insensíveis, ante os exilados dentro de nossa mesma pátria ou da nossa própria mesa.

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