Motivo para pessimismo não falta, sabemos bem. É só abrir os jornais sobreviventes e assistir às TVs. O bicho-homem continua agindo mal...

O mundo avança, apesar de tudo

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Motivo para pessimismo não falta, sabemos bem. É só abrir os jornais sobreviventes e assistir às TVs. O bicho-homem continua agindo mal, não aprende as lições da História e se compraz, sob muitos aspectos, em permanecer nas cavernas e não no século XXI. Apesar disso, genericamente, o mundo avança. Devagarinho, mas avança. É só prestarmos atenção, para, em alguma medida, encontrarmos um mínimo de consolo em meio a tanta desolação. Vejamos.

Pela primeira vez, a Inglaterra está sendo governada por um filho de indianos, um homem jovem ainda, de nome Rishi Sunak, um bem sucedido empresário, de pele escura como seu povo de origem, modelo de sucesso pessoal e profissional, segundo as normas do Ocidente. Quem diria. Há menos de um século Winston Churchill recusou-se a receber o Mahatma Gandhi em Londres, quando este ainda lutava, pacificamente, pela independência da Índia, a mais valiosa joia do ainda poderoso império britânico. A atitude ofensiva de Churchill era política, certamente, mas carregava também, não há dúvida, uma dose de preconceito racial ou étnico contra os colonos asiáticos que tanto deram à Inglaterra e ao Reino Unido como um todo. Agora Rishi Sunak ocupa o mesmo cargo do velho herói da Segunda Guerra, símbolo do que os ingleses têm de melhor em sua história.

Alguém poderá não dar tanta importância a essa novidade que os ingleses apresentam ao mundo com uma naturalidade típica dos britânicos, sempre tão discretos na expressão dos pensamentos e das emoções. Mas o fato é que, em termos simbólicos, a ascensão de um filho de indianos à chefia do governo representa muito. É uma virada cultural e tanto, abrindo precedente para outras viradas que certamente virão, em todos os sentidos. A própria ascensão anterior de uma mulher, Margareth Thatcher, ao mesmo cargo, já tinha sido uma pequena revolução nos rígidos costumes do Reino Unido, fazendo o mundo avançar silenciosamente, como está acontecendo agora com Rishi Sunak, que até pode durar pouco no cargo, não importa.

Há pouquíssimo tempo, tivemos Barack Obama, o primeiro afrodescendente a assumir a presidência dos EUA, um país que segregava negros e os linchava na rua sob qualquer pretexto ainda ontem, em meados do século passado. Quanta mudança. Os americanos ainda não tiveram uma mulher na chefia do executivo, mas estão perto disso, pois já têm uma vice-presidente - e negra, além do mais. São imensos avanços civilizatórios, que às vezes nem percebemos nem valorizamos, mas que fazem uma diferença enorme para determinados segmentos da população historicamente discriminados.

Voltando um pouquinho mais no calendário, lembremos Mandela, na África do Sul, país tristemente célebre pelo odioso apartheid, em vigor até recentemente, pode-se dizer. Um líder negro que praticamente saiu do cárcere para a presidência da república, de forma pacífica, sem revanchismos e sem ódios. Que belo exemplo para o mundo. E que progresso para a humanidade.

Em muitas cidades do planeta, membros das mais diversas minorias, antes tão desprezadas e perseguidas, estão ocupando cargos e espaços públicos de relevância, num movimento para a frente que não tem mais volta. São homossexuais, são portadores de necessidades especiais, são oriundos de etnias e povos anteriormente dominados, são artistas e outros marginalizados de todo tipo, elegantemente chamados de outsiders, ou seja, os que estão (ou estavam) do lado de fora, nas periferias de toda espécie. E por aí vai.

Há poucos dias, um jovem indígena da nossa Baía da Traição foi aprovado no vestibular de Medicina da Universidade de Brasília. Veja só que fato extraordinário, impensável até recentemente. O processo é lento, mas a mobilidade social acontece cada vez mais, principalmente através da educação, geradora de oportunidades. Retornando à Inglaterra, país tão hierarquizado socialmente, o que é típico das monarquias, foi realmente notável a subida da senhora Thatcher ao poder político máximo, filha que era de um modesto dono de mercearia, além de mulher, é claro. Morreu baronesa. A rainha foi ao seu funeral, que teve honras de Estado.

Não quer isto dizer, óbvio, que o mundo está virando um paraíso, uma Pasárgada bandeiriana. Longe disso, sabemos. Há ainda tanta injustiça e tanta maldade, tanto atraso e tanta miséria, motivos de tristeza e até de desânimo. Os males são tantos – e tão resistentes - que frequentemente dizemos que o mundo não jeito, como se nada pudesse mudar para melhor e tivéssemos que simplesmente aceitar o status quo inevitável. Sim, em muitos lugares e sob diversos aspectos, o mundo ainda é um inferno para muita gente, semelhantes nossos tão maltratados pela vida. Como ignorar essa realidade?

Mas pelos exemplos dados acima – e por outros mais -, podemos constatar que o mundo vai avançando, apesar de tudo. Nem nossos netos viverão para assistir aos dias melhores que haverão de vir, porque ainda falta muito para a humanidade chegar lá, nesse futuro alvissareiro. E olhe que não sou um otimista contumaz. Pelo contrário. Todavia, bem no íntimo, cultivo essa pequena esperança de evolução humana. Apesar de tudo.

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  1. Boa Gil, costumo dizer que sou um pessimista no micro e um otimista no macro

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  2. Isso mesmo, amigo.

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  3. É bem verdade, amigo Gil.
    Temos avanços, embora aos trancos e barrancos, muitos dos quais nos levam a duvidar de seus verdadeiros benefícios.

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  4. Obrigado, Arael.

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