Toda minha vida está lá em casa, móveis antigos, quadros, fotos da família, inclusive daqueles que não estão mais além delas, suas roupas que ainda uso, as cartas que me escreveram nos aniversários, e os cartões que vieram junto com os presentes. Minha casa é um abrigo, um acorde da razão onde o tempo para, e não quero que ele se esconda e me deixe fora de seu reinado, no sigilo de toda atenção que eu deixo lá dentro. Sempre permiti que a vergonha ficasse de lado, para não ser minha limitação de amanhã e impedir de ser eu mesmo com minhas gavetas da memória.
As ligações que fazemos com os outros são nosso maior tesouro, é onde o arco-íris nasce e nos guia. É o que podemos esperar de nossas vidas, por vezes secas, doídas e maltrapilhas, mas também vigorosas e esperançosas pelo muito que podemos realizar.
Somos feitos para isso, estarmos juntos, nos sentir presentes dentro do que somos, e manter os laços que construímos densos e longos. Precisamos chorar nossos mortos e receber as crianças de braços abertos. Passar a frente tudo que nos ensinaram e que nos foi concedido durante um tempo, que foi intenso, breve ou longo, mas fez sentido, esse é o motivo do nosso viver.
Quem quer viver para sempre, um doce momento a mais, e ficar a sós sem a presença de todos que se foram?
Seria uma eternidade vazia. Como aquele casal que troca as flores do túmulo de seu filho morto na guerra, esse é o tamanho da eternidade. Na Alemanha o dia nacional de luto se chama Volkstrauertag. Desde 1952 aquele povo dedica um domingo para lembrar e prestar homenagens aos mortos em conflitos, ou do resultado da opressão, mas especialmente os mortos nas duas guerras mundiais e as vítimas do nazismo. São os que fizeram falta para alguém, e que estimulam a memória saudosa para toda existência de um outro.
Não se existe sem razão, ou por algum motivo só para ser seu e dizer que inventou com os olhos abertos e os sentidos despertos.
Se o seu sonho estiver nas nuvens, ele está no lugar certo. O perigo, é se ele for curto, medíocre, e você chegar lá.
Marcello Mastroianni disse que todos deveríamos ter duas vidas, uma para ensaiar e outra para viver.
E no filme Loucura de amor as duas coisas acontecem ao mesmo tempo, ele nos revelou as desventuras de um casal de jovens muito diferentes entre si, e que se uniram de um jeito mais adverso ainda. O rapaz se dedicou incessantemente em se aproximar da jovem com problemas mentais, e que vive num centro psiquiátrico, mas que o emocionou com seu brilho no olhar e paixão de viver, que despertou o perfume da emoção no encontro com o sentido da vida. Necessitou da ajuda de outro paciente maluco para conquistá-la, tendo muita sensibilidade e esperteza na forma e conteúdo dessa empreitada.
Quer saber o final do filme? Não, deixe de procurar. Cabe a você, a busca por quem vai dedicar seus dias de sorriso e atenção. Mas também pode esperar ser escolhido(a), há uma pequena chance de sua loucura ser percebida, mas se caprichar no que tem a oferecer, alguém pode gostar de seu olhar, e te esperar no portão para tomarem um remédio juntinhos.