O trânsito, como era de esperar, foi limitando os meus espaços de motorista, vendo mais carro do que estrada. E só nas horas desertas ...

Intermares e Burity

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O trânsito, como era de esperar, foi limitando os meus espaços de motorista, vendo mais carro do que estrada. E só nas horas desertas venho conseguindo reempossar-me um pouco da mais sedutora das cadeiras, a de motorista. Sem direito a carro de brinquedo, de vez em quando me surpreendo “virando” o motor no bico, vuum-vuum, no imaginário da infância. Às seis da manhã, sem interferência das buzinas, isto ainda é possível.

E sem propósito me achei numa avenida que aos poucos fui identificando com a antiga Intermares, de Burity. Parei no acostamento, o sol-nado, e me lembrei das diligências de Aramis Alves Ayres,
amigo e ex-auxiliar do governador, para batizar a avenida terminada na penúltima noite do governo com o nome do seu construtor.

Não vi placa, em que ficou?

Na verdade, não foi só a construção da avenida, foi a incorporação da belíssima enseada, com um loteamento à espera de construção, ao plano de expansão urbana da Grande João Pessoa. Os pequenos pontos de cal existentes naquele momento avizinhavam-se do Poço, ao norte, e das dunas do Bessa, à boa distância da foz do Jaguaribe.

Com a abertura e montagem da avenida, o loteamento aflorou num dos mais belos e modernos núcleos urbanos das duas cidades, tal como ocorreu, no primeiro governo, com a implantação de Mangabeira. Como Pedro Gondim, João Agripino e Ernani, a intervenção de Burity no mapa da cidade foi das mais fecundas, sem que seu nome, por isso, tenha servido de batismo a alguma delas. Salvo engano, os dois primeiros núcleos de Mangabeira chegaram a ter seu nome por proposta alheia à sua vontade, prevalecendo o nome do sítio, que foi o recomendado e adotado por ele próprio no noticiário, na propaganda e na entrega.

Portomar
Atuando na comunicação do seu governo, nunca fui por ele insinuado, nem de longe, a estimular esse tipo de homenagem.

Entendíamos que esses batismos têm mistérios que nem os seus autores anônimos explicam. Tiremos pela Lei de Burity a que o sertão se referia anos depois de sua saída do governo, a Lei da Emergência, considerando o trabalho da mulher em casa, nos cuidados com a família, da mesma valia do prestado nas tarefas da frente. Ele nunca acreditou que o ato repercutisse além da sua angustiada contingência.

@cabaceiras.gov.br
Bem melhor deixar com o povo, que nos deu a lição da Torre. As terras do bairro inteiro, da Maximiano de Figueiredo até bater no morro, pertenciam a D. Júlia Freire. Mas na hora de batizar o bairro valeu o nome de Seu Joaquim, o cobrador Joaquim Torres, que não despejava ninguém, paciente na cobrança do aluguel e do foro. À dona das terras chegou a caber a avenida, longa avenida com direito a uma das igrejas mais cultuadas da cidade, tudo por conta do desígnio popular.

Mesmo com o justo batismo de José Lins do Rego, o Espaço Cultural está sentenciado a lembrar Burity, a sua marca, como o Mercado de Artesanato, a ideia da Costa do Sol e a adoção de uma política efetiva de valorização do patrimônio histórico e cultural.

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