Nunca antes na história desse país tivemos uma eleição para presidente dessas! Não mais programa eleitoral, caminhadas, comícios, re...

Eleições 2022

Nunca antes na história desse país tivemos uma eleição para presidente dessas! Não mais programa eleitoral, caminhadas, comícios, respeito ao adversário, debates acirrados na TV, santinhos, panfletagem, para garantir a vitória. Tudo isso acontece ainda. Mas sem muita eficácia. Os comentaristas políticos meio perdidos; o povo decidindo voto na última hora; os eleitores sendo orientados para não responderem às pesquisas. As pesquisas sem conseguir ler o desejo dos eleitores…

O mundo virou de cabeça para baixo. Acho que esse novo cenário começou com Trump nos Estados Unidos. Fake News, pauta de costumes, cristãos, igrejas, pastores, padres, censura, liberdade de expressão, mentiras, deepfake, subterrâneo, vídeos, vírus, direito de resposta, intolerâncias, ódios, e tantas e tantas novidades da tecnologia que, nenhuma nuvem consegue captar.

Eu, que me acho informada e uma pessoa estudada, já não dou conta dessa outra realidade – a metaverso? O meu avatar já saiu voando por aí faz tempo. Imaginem uma pessoa que passa fome, que está fora do mercado de trabalho, que trabalha 14/16 horas por dia, buscando a sobrevivência, que vive em vulnerabilidade nutricional, sem teto, se vai entender os poderes do STF? Se sabe quem é Alexandre Moraes, ou o perigo a que incorremos caso a nossa democracia vá às favas. Muito difícil esse diálogo honesto e limpo com a população brasileira.

Agora é tudo no algoritmo. Nas bolhas. Nas pesquisas evangélicas/católicas. Nos alvos pequenos, para que tais pequenos núcleos se inflem e cheguem aos bolsões, sorrateiramente. Sem ninguém se sentir informado, questionado, respondido nas suas dúvidas eleitorais. Um mundo das máquinas. Da inteligência artificial. E já sabíamos que a tecnologia é uma maravilha, se bem usada. No momento, sabemos que, todos os hackers de plantão estão a serviço do voto que nem de cabresto mais é. Os currais? São na máquina mesmo. A fala de um candidato? Claro que tem importância. Mas tudo é medido e manipulado. No minuto seguinte a um debate, por exemplo, os memes tomam conta das mídias sociais. Trechos das falas descontextualizadas e a mando de uma entidade sem rosto. O Big Brother que Orwell previu lá no seu clássico 1984. Responder a quem? Confiar em quem? E o direito de resposta? Quando sai, já está fora do momento. A velocidade das fake news é a da luz. E sabemos que uma mentira atrás da outra vira verdade. Ou pelo menos uma verdade pela metade. Uma mentira questionável.

Ando zonza, tonta, com angústia, com gastura, com insônia, com tristeza, com medo, e também com uma sensação de que o meu mundo acabou. Um mundo das certezas que, lá no fim do século XIX já anunciava o seu fim. Participo das redes sociais. Posto coisas - da política, das viagens, da família, das bobagens da janela, da cozinha, ou dos brindes da vida. Os Tbts das fotos queridas me fazem viajar no tempo meu e vivido. Gosto também de viajar nos posts dos outros. Olhar a vida alheia pela fechadura. Dar risadas com as fofuras dos pets inteligentes. Mas também me enraiveço com posts preconceituosos, sexistas, machistas, homofóbicos, racistas, e na maioria das vezes respondo. As pessoas não mais querem diálogo, sempre se aborrecem e me botam pra dormir. Também já bloqueei muita gente com quem me decepcionei, me entristeci.

A minha geração, que conquistou a liberdade sexual e comportamental, retrocedendo nas questões tão importantes da vida como o estado laico, a descriminalização do aborto e das drogas. Confundem tudo. Acham que lutar por essa agenda é abrir a porteira do crime, fazer aborto ao deus dará. E não pensam nas milhares de mulheres pobres em aflição e falta de assistência médica e psicológica. Nem na diminuição do tráfico, assistência aos desvalidos dos viciados. Nas armas. Na violência brutal de hoje.

E a família? Que há anos tenta ser inclusiva, diversa, como nos filmes: Mães Paralelas (Pedro Almodóvar), Minhas mães e meu pai (EUA, 2010), e tantos outros ícones das artes literárias e fílmicas. Hoje a família exigida é a segregada, reacionária, que não admite outra orientação sexual que não a normativa, cisgênero, hétero. O amor e sexo transcendem a tudo isso. A família moderna também. E a falada “ideologia de gênero”, que ouviram o galo cantar e não sabem onde. Confundiram com Identidade de Gênero, de má fé, com uma obsessão por banheiros unissex e sexo oral – a Damares que o diga! Mas as venezuelanas viram de perto o que é “pintar um clima”. Vão ler Judith Butler, que saiu escorraçada e expulsa do país pela ignorância. Categorias de gênero, que são estudadas há décadas pelas feministas, acadêmicas, e hoje assistir a tudo isso de forma rasa e abominável.

Próximo domingo teremos eleições para presidente da república. Lembremos da luta de tantos para chegarmos a um país democrata. Viva a democracia!

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