Que palavras agrupar para escrever sobre Otávio Sitônio Pinto, logo ele um exímio encantador de palavras? Inibe-me utilizar as minhas para falar sobre as dele, ora serpentes venenosas, ora favos do mais puro mel. Umas e outras, porém, desprovidas de qualquer excesso, tanto que o veneno liberado por aquelas não é letal; e tampouco dulcíssima a colmeia de onde ele extrai essas últimas. Em Otávio, palavras e sentimentos são sopesados e medidos, principalmente quando buscam reconstituir tudo o que, aparentemente sólido e impregnado de eternidade, o tempo desmanchou no ar.
Por outro lado, a eficácia de sua linguagem reside justamente em fazer com o que ele diz “seja presença da coisa dita e não discurso sobre a coisa”. Daí ele recompor, em toda a inteireza, os tempos idos e vividos, sobretudo as coisas simples, prosaicas, porém essenciais: os lápis-de-cor, a escola primária, o pólen dos jambeiros coalhando o leito das ruas e, pelo menos no universo das minhas vivências pessoais, o lança perfume “Rodouro”, cujo jato friíssimo congelava a timidez adolescente da moça antiga.
As crônicas reunidas em “Sessão das Bruxas” – a ser lançado brevemente – possuem os mesmos ingredientes mágicos das “madeleines” de Marcel Proust. Portanto, que o leitor as saboreie parcimoniosamente, pois somente assim transportar-se-á para um mundo somente recuperado graças ao poder da linguagem de Otávio Sitônio Pinto.
Faz algum tempo, escrevi o verbete do poeta de “Caminhos de Toboso” para o livro “Coletânea de autores paraibanos”: “Nem sempre o autor de uma produção copiosa dedica tempo integral à literatura. Do mesmo modo, o autor bissexto nem sempre é um escritor incidental, uma vez que a sua obra, mesmo reduzida, pode ser fruto de uma reflexão constante acerca da fenomenologia literária. Sitônio Pinto enquadra-se nesse segundo caso, pois mesmo inédito em livro, os poucos poemas que veicula concentram, na sua grande maioria, uma flagrante consciência do ofício”.
De lá para cá, Otávio Sitônio Pinto já publicou os livros “A Raposa do Planalto” (ensaio político) e “Os Caminhos de Toboso” (poesia), além de ter escrito outros três: “Sessão das Bruxas” (crônicas), “Dom Sertão e Dona Seca” (ensaio) e “Deliciosos” (crônicas), valendo ressaltar que os dois últimos foram recentemente premiados em concurso promovido pela Academia Paraibana de Letras.