The Crown  é uma série de televisão anglo-americana criada e escrita por Peter Morgan para a Netflix. A série, que estreou em novembro...

The Crown

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The Crown é uma série de televisão anglo-americana criada e escrita por Peter Morgan para a Netflix. A série, que estreou em novembro de 2016, é uma história biográfica sobre a família real do Reino Unido. Foi vencedora do Globo de Ouro de melhor série dramática e também o Globo de Ouro de melhor atriz em série dramática para Claire Foy, no papel de Elizabeth II. As cinco temporadas estão distribuídas em 60 episódios. Peter Morgan, que escreveu o filme A Rainha (2006), escreve o roteiro com o diretor Stephen Daldry, de As Horas (2002).

Claire Foy (Elizabeth II)
A história passeia pela vida da Rainha Elizabeth II, desde o tempo do seu pai, o Rei George VI (imortalizado no Cinema por Colin Firth no filme, em O Discurso do Rei), sua morte, a coroa que cai de repente na cabeça da filha mais velha (aos 24 anos?!), sua imaturidade, ingenuidade, not-ready para um fardo/peso/orgulho/reinado. Seu casamento, sua paixão por Philip, por cavalos e seu crescimento como mulher/pessoa/rainha.

A série é deslumbrante. Na reconstituição, na escolha dos atores, em especial para John Lithgow, no papel de Winston Churchill, e os seus mais de 50 tons de anos à frente da política Britânica. Tive oportunidade de visitar a casa e jardins de Churchill e, assistindo à série, transportei-me no tempo e espaço. E na beleza dos jardins Ingleses.

A monarquia britânica sempre despertou fascínio no mundo. A nossa porção "contos de fada" é tomada de beijo pelo príncipe da Bela Adormecida e entramos no conto da Cinderela com carruagens e tudo. Vivi esse reinado nas minhas fantasias, sempre lendo e acompanhando as notícias dos bastidores, os escândalos, a Princesa Diana, sua morte, seus filhos, William, casamentos, príncipes etc. Ou nas visitas às redondezas do Palácio de Buckingham, Parque Saint James e adjacências.

Emma Corrin (Diana)
Na Série, gostei de conhecer a personalidade da Rainha, forte e bela, mais do que seus olhos cor de esmeralda. Enfrentou as fragatas. Observou atenta as fanfarrices débeis do marido. Acariciou seus cavalos. Enfrentou sua mãe, avó, os ministros, o próprio Churchill, o glamour e competição da sua irmã Margaret e todos os percalços que lhe apareciam por trás das inúmeras portas e corredores seculares. E se incomodou em não ter tido uma “proper education”. Cobra da mãe o porquê? E esta lhe responde que não precisava aprender mais nada, além de se saber se comportar e silenciar. Nem eloquente precisava ser! Claro que ela interdiz, alegando que não quer ficar a sós com os estadistas e não saber falar de nada. Contrata um tutor e pesquisa sobre o Presidente americano
Matt Smith (Philip)
Eisenhower, sobre política externa, Império, Colônias, Poder e outras coisas que não fossem somente as crinas e rabos.

O humor britânico é mostrado com requintes de ironia, como ocorre na cena do cruzamento do cavalo preferido da Rainha com uma égua, nem muito atirada, nem muito recatada (ou do lar?!). A cena é toda intermediada entre a raiva e o ciúme que o Príncipe Philip tem do treinador de cavalos (antigo pretendente de Elizabeth) e uma linguagem nas entrelinhas sobre o sexo dos monarcas e o das éguas, que nos faz, literalmente, rinchar de rir!

Uma das minhas cenas preferidas é a de Churchill sendo retratado pelo pintor Graham Sutherland (interpretado pelo ator Stephen Dillane, que também fez o magistral Mr. Leonard Woolf em As Horas). Aliás, várias pitadas desse meu filme particular: Os Stephens — Daldry e Dillane; o ator que faz o dono do castelo na Escócia, para onde a Rainha Mãe vai descansar é o mesmo que faz Richard Dalloway, marido de Mrs. Dalloway, no filme do mesmo nome.

Stephen Dillane (Graham Sutherland) e John Lithgow (Winston Churchill)
No pintar o retrato de Churchill para a posteridade, é inimaginável o diálogo que se estabelece entre o que seja um retrato: aparências; verdade x ficção; o que mostrar ou não; o que fica na memória ou não; as cores; as pinceladas; os tons na palheta; as mãos; o charuto; as névoas da fumaça e da personalidade de alguém tão poderoso e que também pintava e entendia das nuances dos rascunhos e das telas em branco. Os dois ficam amigos, confidenciam perdas (das filhas: Sutherland perdeu um bebê de 2 meses; Churchill a sua Marigold, com poucos anos). E logo Sutherland, com seu silêncio perspicaz, descobre o segredo do Ministro. Havia pintado o lago de sua casa mais de vinte vezes. E todas as cartelas das cores estavam lá. Churchill se surpreende com a sutileza do comentário e confessa que o lago foi construído para Marigold. Toda a carga de saudade, dor e melancolia pela perda da menina, enfim, retratada na descrição de um “Pond”.
John Lithgow (Winston Churchill)
Que águas sombrias seriam essas? Cada um esconde o que pode, onde consegue. Mas o nosso inconsciente fala sozinho como ventríloquo, e a ele não podemos driblar.

Ao final, quadro pronto para a celebração dos 80 anos de Churchill e ele não gosta da pintura. Está decadente, patético e feio. Esbraveja. O real? Tudo o que não queria. Sutherland então lhe diz bravamente: "Mas isso tudo é o Senhor! Inclusive essa decadência e feiura". Nenhum pedido de renúncia pela oposição ou até mesmo da Rainha foi convincente para, de fato, Churchill o fazê-lo, mas ver-se retratado como um “Dorian Gray”, sem alma vendida, foi demais para um homem tão poderoso. Ele renuncia ao se deparar com o que diz o poema Retrato, de Cecília Meireles: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios...” Onde está o meu rosto? Ou tantos outros poemas que falam do rosto perdido nosso de cada um.

Como não relacionar a cena com um conto do também escritor Inglês D. H. Lawrence – “The Horse Dealer´s Daughter”? Uma pequena amostra da arte desse que sabia tanto falar das relações amorosas, da decadência dessas mesmas relações, da oposição do instinto x intelecto, do não vivido. Nesse conto também temos um certo lago de água parada, símbolo da morte, onde a protagonista tenta suicídio, mas logo é salva para enfim viver um grand finale de entrega e paixão, para finalmente acontecer a epifania, elemento tão recorrente nos contos modernos.

Helena Bonham Carter (Margaret)
Em The Crown, o espectador também se extasia com a exuberância e beleza da paisagem do countryside Britânico, dos cliffs e cores monocromáticas da costa Escocesa, seus castelos e toda a pujança da décor dos palácios de reis e rainhas da segunda metade do Século XX. A Assim como outra série magnífica – Dowton AbbeyThe Crown traça não somente a monarquia Britânica, mas também o seu declínio, suas transformações políticas e sociais e o surgimento de novos tempos.

Do lado de cá, ficamos sonhando. Não mais com rainhas, mas com toda essa magia que essas estórias continuam nos assombrando.

Em tempo: Depois que escrevi esse texto já vi mais duas temporadas da série, que vai até a vida da Princesa Diana. Mas aí é assunto para outra crônica.


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  1. Bravos. Se eu tivesse voto você seria a minha candidata para a nossa Academia Paraibana de Letras.

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