Sempre que assumia cargos de “ordenador de despesas”, costumava eu, antes de mais nada, fazer uma análise de balanços dos anos anterior...

Tabajara: um desafio e tanto

Sempre que assumia cargos de “ordenador de despesas”, costumava eu, antes de mais nada, fazer uma análise de balanços dos anos anteriores, além de conhecer em detalhes todas as pendências herdadas.

Fiquei assustado quando assumi a direção da Rádio Tabajara, em março de 1995, a convite do governador Antônio Mariz. Encontrei a rádio visivelmente sucateada, com uma multidão de funcionários admitidos sem nenhum critério; uma empresa sem personalidade jurídica definida. Vejam só, era ao mesmo tempo uma empresa em liquidação (ainda não liquidada) e, paralelamente, uma autarquia criada por lei (ainda não instalada), com enorme contencioso trabalhista.

Antiga sede central da Rádio Tabajara na Rua Roqruigues de Aquino
Como eu já estava na “fogueira”, o jeito foi encarar a "fera". Com muito esforço, conseguimos, os demais diretores e eu, saldar todas as dívidas, exceto a trabalhista já ajuizada; e, por incrível que possa parecer, ainda deixamos expressivo numerário em caixa.

Ao mesmo tempo, em termos técnicos, obtivemos a concessão da FM (a emissora de Frequência Modulada); elaboramos o projeto técnico para o aumento da potência da AM, a área da Rádio Tabajara que funcionava em modulação de amplitude, obtendo sua aprovação junto ao Ministério das Comunicações.

Além disso reformulamos a programação, adotando o slogan “Cultura e Informação”. Substituímos a velha frota existente por veículos novinhos, zero km. Informatizamos setores burocráticos e adquirimos equipamentos de última geração.

Mais: firmamos convênios de parceria com a UFPB e de cooperação técnica com a Radiobrás, além de estabelecermos interligação por satélite com a BBC de Londres e a Voz da América (EUA), colocando a Tabajara no circuito internacional da notícia e divulgando a pequenina Paraíba pelo mundo afora.

Tudo está devidamente registrado no livro “Rádio Tabajara: um registro histórico”, da autoria de Maria de Lourdes Luna [Segunda edição, Subsecretaria de Cultura/DPG/Secretaria da Educação e Cultura], a partir da página 46.

Lembro ainda: tivemos que cuidar da transferência da concessão (outorga) da AM para a Superintendência (ainda estava no nome da empresa), aproveitando para renovar tal concessão por mais 10 anos e para aumentar sua potência. Ainda na AM, cuidamos de fazer um plano de atualização tecnológica que incluiu projetos de mudança do sistema irradiante e de transmissão por satélite.

Depois de obtermos a outorga da FM, cuidamos do projeto de mudança de classe, o que fez a emissora ser contemplada com a potência de 2,5 Kws e a frequência de 105,5 Mhz, do modo como está até os dias atuais.

Também fizemos o projeto de localização da FM, última providência antes da instalação. E o mais importante: adotei todos os procedimentos necessários para incluir a Tabajara no SINRED – Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa, liderado pela Rádio MEC.

Só não fizemos mesmo a instalação da emissora de frequência modulada porque pedi ao governador José Maranhão para deixar o cargo, por motivo de saúde, em junho de 1997. A FM só seria inaugurada em agosto de 1999, com a presença da Orquestra Tabajara do maestro Severino Araújo, em show no Espaço Cultural, na gestão do executivo Rui César Leitão.

José Targino Maranhão e Petrônio Souto
O convênio de parceria com a UFPB, no reitorado do professor Neroaldo Pontes, resultou na inserção dos programas:

a) "Multiondas”, produzido pela Assessoria de Comunicação da UFPB; e

b) "Cinema Falado", produzido e apresentado por alunos do Curso de Comunicação Social, espaço que revelou a estudante Zizi Farias, hoje jornalista militante.

Também publicamos livro sobre a morte, o velório, o cortejo e o sepultamento do governador Antônio Mariz, transmitidos, ao vivo, pelo maior “pool” de emissoras de rádio já formado na história da Paraíba.

Finalmente, construímos o muro definindo os limites e confrontações do terreno da emissora, que, sem proteção, era alvo de invasões do movimento dos sem-teto, e, com o decisivo apoio do governador Antônio Mariz, do chefe da Casa Civil, Ronald Queiroz, e da presidente da Cehap, Emília Correia Lima, foram construídas casas para os servidores mais humildes da emissora, num terreno localizado entre os muros da rádio e a Comunidade São Rafael. Assim, os servidores mais carentes passaram a residir praticamente no local de trabalho.

Foi dureza — mas valeu a experiência. Os contemporâneos que o digam.


* Registros fotográficos da gestão do autor no exercício de suas funções da Rádio Tabajara


Acervo do autor
Foto 01: Ortilo Antônio, 25-janeiro-1997, Cariri Praia, 60 anos da RT / Foto 02: Assinatura do convênio da Rádio Tabajara com a UFPB / Foto 03: Reunião para planejamento da estreia do programa de rádio para as Forças de Paz de ONU em Angola, em cooperação com Radiobrás / Foto 04: Reataurante Cariri Praia, 60 anos da Rádio Tabajara / Foro 05: Conexão com a Rádio Nacional de Brasília para a cobertura da BNTM no Espaço Cultural, com Walter Lima no comando / Foto 06: Em palácio, assinatura do Convênio de Cooperação Técnca com a Radiobrás (Presidente: deputado federal Maurílio Ferreira Lima)

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