Quando setembro chegou, trouxe a esperança da Primavera. Uma Primavera solene com recados da natureza para recordar.
Olho a rua e observo nuvens conduzindo expectativas de bons tempos, em muitas direções. Sou um sujeito esperançoso. Espero mudanças que chegam com vento a açoitar as copas das árvores, a entrar pelas frinchas das janelas, com seus recados. Recados que há muito tempo procuro decifrar.
Olho a rua e observo nuvens conduzindo expectativas de bons tempos, em muitas direções. Sou um sujeito esperançoso. Espero mudanças que chegam com vento a açoitar as copas das árvores, a entrar pelas frinchas das janelas, com seus recados. Recados que há muito tempo procuro decifrar.
Na Primavera, a paisagem aparece como uma abóbada de folhagem, e sossega a alma. Os canteiros das praças da cidade dão o tom nesse período de transformações da Natureza e trazem saudades. Saudades da temporada das folhas verdes, das flores e do vento suave de anos passados, que carrego comigo. Me pergunto se devo fazer as saudações de praxe a essa temporada de luz, registrar no poema e na crônica as moções da alma.
Meu pensamento sobrevoa a cidade onde há mais de cinco décadas acalento projetos e, apesar de menor quantidade, escutamos pássaros a entoar sinfonia nas manhãs antecipadas, no entardecer com bem-te-vis solitários em árvores ou fios da rede elétrica. Escuto e recordo as primaveras da minha infância, quando andava com camisa aberta ao peito – Casimiro de Abreu me lembrou essa saudade -, conduzia bornal de pano a tiracolo com seixos ou bolinhas de barro para usar na baladeira.
Os habitantes de agora já não acordam cedo para escutar pássaros, até porque não os temos madrugadores como há cinco décadas, quando enchiam os arredores de Tambiá.
Como é bonito escutar a peleja dos galos na madrugada. Tenho muita saudade do tempo quando morava no sítio. Os galos no terreiro de casa promoviam duetos ao rodear com galanteios as matrizes.
Quando bate saudade, mesmo na imaginação, viajo para minha terra onde é possível desfrutar de clima ameno, escutar o canto dos galos e olhar os pássaros a rodopiar as árvores.
Outro dia, acordei em Serraria com o cantar rouco do galo carijó no quintal de casa. Pequenas cidades proporcionam esse contato com a paisagem e a brisa em suas enseadas. Seja nas manhãs ou no entardecer, o sol cria ambiente quieto.
Quando comentei com Sofia sobre as mudanças dessa época do ano, ela sorriu com os olhos de primavera. Das suas mãos exalava o perfume de rosas. Recordamos o pôr do sol avermelhado entre as enseadas de nossos antigos canaviais e no resto de matas nos lugares de onde viemos. Também falamos do luar sobre as ondas mansas do mar neste período do ano.
Tudo isso carregava um pouco de Neruda, nas imagens e sons que trazem seus poemas.
Com a Primavera contemplamos o sol enxerido sobre o mar, se tiver oportunidade de olhar o mar, mas estando no campo, o aspecto do sol oferece paisagem inesquecível. A Primavera é estação do ano cheia de recordações do tempo da infância, porque prepara o Verão. Verão com paisagem que nosso coração imagina.