A psicologia funcionalista interessa-se em pesquisar como o cérebro humano funciona, também quando se trata na adaptação do organismo ao seu ambiente. Nesse sistema, os funcionalistas estudam a mente como um acúmulo de processos que levam a consequências práticas no mundo real. Um dos filósofos e psicólogos norte-americanos que massificava essa corrente psicológica era William James (1842-1910), que dissertava uma relação entre psicologia e religião. Esse tema está analisado em seu livro
As Variedades da Experiência Religiosa: Um Estudo Sobre a Natureza Humana (1902). Também afirmava que as ideias metafísicas e religiosas seriam válidas enquanto satisfizessem determinadas necessidades sociais.
James, que foi um dos pioneiros da “Psicologia Funcional”, apresentava os fundamentos de um “pragmatismo” e realizava estudos científicos da mente humana relacionados aos valores morais e espirituais, numa época em que a psicologia estava se formando como ciência. No início do século 20, alguns fenômenos, a exemplo dos êxtases ⏤ até então considerados fenômenos religiosos ⏤ passaram a ser encarados como transtornos mentais. Isso influenciou uma inclusão da razão científica com a finalidade de explicar as perturbações da “alma” e outros fenômenos semelhantes.
Durante o processo de elaboração de sua teoria, após 12 anos de estudos, em 1890, James publicou seu livro Princípios de Psicologia, no qual compara a ciência da mente às disciplinas biológicas e considera a consciência como um estado de adaptação da espécie humana. Sua tese de que existe uma relação casual entre os fenômenos psíquicos e as sensações nervosas era conhecida por explicar que “são as perturbações da mente que originam os estados emocionais”, e não o inverso, como se sustentava tradicionalmente. Suas pesquisas indicam a existência de uma relação entre psicopatologia e religião. Ou seja, há uma sublimação religiosa em algumas perturbações psíquicas.
O pesquisador dedicou-se à construção de sua filosofia pragmática, iniciada pelo filósofo, pedagogista, cientista, linguista e matemático, também norte-americano, Charles Sanders Peirce (1839– 1914), influenciado pelo empirismo e utilitarismo britânicos. Esse pragmatismo foi desenvolvido a partir da análise do fundamento lógico das ciências. Em 1897, publicou A Vontade de Crer e Outros Ensaios sobre Filosofia Popular, em que afirma: “Todo conceito se fundamenta na experiência e tem um fim, uma utilidade”.
Durante décadas, James aplicava seus métodos empíricos à investigação de temas filosóficos e religiosos. Explorava os postulados da existência de Deus, da imortalidade da alma, dos valores éticos e do livre arbítrio como fonte da experiência religiosa e moral, atribuindo à religião um caráter individual. Introduzia nos estudos de religião e psicologia a temática da psicopatologia, por isso é considerado o pioneiro da 'Psicologia da Religião'. Admitia que uma "experiência religiosa individual" constituía um núcleo central de uma vida religiosa. Essa ideia colocava-se em oposição às concepções das religiões organizadas, de que o centro de uma experiência religiosa estava nas manifestações sociais de uma religião. Afirmava que, para se descobrir um sentido dado por uma religião, deve-se investigar as experiências individuais de pessoas religiosas, por exemplo: dos místicos. Enfatizava que uma religião é algo individual, construída a partir da crença numa regra invisível. E uma felicidade está condicionada à busca de uma harmonia com essa transcendência. Nesse caso, a religião está conceitualmente relacionada aos sentimentos, aos atos e experiências humanas, enquanto se percebe a si mesmo.
William James identificava que uma consciência religiosa surge quando um indivíduo se conscientiza de seus erros, aceita uma atitude de conversão e depois identifica seu ser real com um Ser transcendental, a fim de obter a própria salvação. Suas teses foram apresentadas a partir de sua ‘Psicologia da Religião’. Ele tinha como objetivo descobrir o que impulsiona ⏤ num indivíduo ⏤ uma experiência religiosa. Concluía que existem sentimentos religiosos armazenados no subconsciente e se irrompem bruscamente em algumas ocasiões, de forma a caracterizar uma patologia, isto é, uma doença psíquica, que pode ser observada quando existe uma expressão de ódio contra um outro ou quando se afirma que só existe salvação para si mesmo.
Afirmava o filósofo que a opção por uma religião se torna um sentido mais determinante de uma existência e uma escolha mais culta de uma vida porque a busca por uma religião é uma tentativa individual de harmonizar-se consigo mesmo e com uma divindade. Considerava quatro variedades de uma experiência religiosa: inefabilidade, que é à dificuldade que um místico tem de comunicar sua experiência; iluminação intelectual, considerada a lucidez com que um religioso aceita situações que não são explicadas pela razão; transitoriedade, caracterizada por uma experiência de êxtase; e passividade, que é vivenciada por práticas contemplativas. Esses sintomas criam uma sensação de alívio e reafirmação pessoal e também trazem frustrações.
Tudo isso apresenta duas categorias de uma religião: a de legitimar uma individualidade, isto é, validar um comportamento religioso voltado somente para si; e a de evidenciar dogmas e vivenciá-los em uma comunidade religiosa.