Políbio Alves não precisa de nenhum título acadêmico para ser quem é. Ele já possui o mais belo e importante dos títulos: ele é poeta, ...

Políbio, um doutor que honra

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Políbio Alves não precisa de nenhum título acadêmico para ser quem é. Ele já possui o mais belo e importante dos títulos: ele é poeta, simplesmente poeta, e não necessita ser mais nada nesta vida – nem em outra que venha a haver. Poeta. E aqui não vou entrar em minúcias de crítico literário — que não sou. Não vou afirmar isso ou aquilo sobre sua poesia, sua obra poética, porque de qualquer modo ele é poeta — e isto basta. Pelo menos, para mim.

Políbio não precisa de títulos de sapiência nem de nobreza. Ele é quem é – não é o bastante? E o mais bonito: ele se fez a si mesmo, ele se construiu, tijolo a tijolo, abrindo portas fechadas, alargando caminhos estreitos,
ele esculpiu sua própria estátua e a plantou no meio da aldeia, modesta mas orgulhosamente. Afinal, é um vencedor, um vitorioso nas batalhas da vida, e isso não é pouca coisa nesta nossa selva nem um pouco amena. Ele não é sertanejo, mas é um forte. Nasceu assim, ou teve que se tornar assim, para vencer.

Agora a Universidade Federal da Paraíba concedeu-lhe o título de “Doutor Honoris Causa”, sua mais alta honraria acadêmica, num reconhecimento explícito do valor desse filho da terra que já vinha colhendo louros, há algum tempo, na aldeia e além dela. É a Academia reverenciando um puro criador, um autêntico artesão das palavras, sem teorias, sem citações eruditas de pé de página nem referências bibliográficas, um ficcionista, um poeta, um artista que retira de si mesmo e de sua experiência a matéria-prima de sua obra, para nela os outros homens e mulheres, daqui e de longe — os leitores — encontrarem um espelho - ou uma referência — com que se identifiquem (ou não), porque, afinal, a literatura é principalmente isso: uma troca de vivências e sentimentos entre o que escreve e o que lê, onde todos ganham algo. A Academia, sabemos, é muito mais das ciências que das artes; por isso, esse novo título de Políbio é relevante – e especial. Por esta razão, fiz questão de comparecer à solenidade na UFPB. Considerei que, de certo modo, era um momento histórico — e foi.

Políbio Alves, com Liana Filgueira, na entrega do título de Doutor Honoris Causa, da UFPB
Esta não foi a primeira honraria recebida pelo poeta. Ele foi agraciado com o título de Cidadão Carioca, por seu trabalho como professor nas periferias do Rio de Janeiro, onde residiu por 15 anos. Recebeu a Medalha Augusto dos Anjos, da Assembleia Legislativa da Paraíba, e a Comenda Cidade de João Pessoa, da Câmara Municipal de nossa Capital. Sem falar em inúmeros prêmios literários, no Brasil e no estrangeiro. Tem sido, portanto, um escritor reconhecido e laureado. A recente distinção acadêmica, em certa medida, vem coroar sua consagração pública, o que é muito justo, principalmente agora que ele atinge, ainda com muita disposição, a estação outonal da vida.

A obra literária de Políbio Alves é vasta. Seu livro de contos O que resta dos mortos, por exemplo, teve tradução em espanhol e em francês, segundo apurei.
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Mas o seu forte mesmo é a poesia. E dentre seus livros neste gênero o que mais realça, pelo menos entre seus conterrâneos, é Varadouro, seu passeio poético pelo antigo bairro onde nasceu sua cidade de mais de quatro séculos. Esta obra, por sua temática, chega a lembrar outra, igualmente célebre entre nós, o Itinerário Lírico da Cidade de João Pessoa, de Jomar Morais de Souto. Ambas misturam na lírica a história, a paisagem e os personagens da urbe, e também as memórias e as vivências pessoais de cada autor: Políbio em apenas um bairro; Jomar na cidade toda. Os dois cantam a aldeia, cada qual do seu jeito, complementando-se mutuamente.

Não tenho, por circunstâncias da vida, maiores aproximações com o poeta. Conheço-o de nome, de obra e de chapéu (se o houvesse). Cumprimentamo-nos cordialmente nos eventuais encontros, os mais frequentes na Livraria do Luiz, onde ele possui cadeira cativa há muitos anos. Apesar de reservado, Políbio não vive retirado em sua torre de marfim em Intermares; pelo contrário, participa muito da vida cultural aldeã, faz-se presente a palestras, lançamentos de livros e eventos semelhantes, incorporando-se plenamente à paisagem intelectual da cidade, como um de seus personagens principais, cuja ausência faria, faz e fará falta.

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William Costa, Políbio Alves e Antonio David Diniz, na Livraria do Luiz
AcervoAntonio David Diniz
Fico a pensar: a esta altura de sua exitosa caminhada literária e existencial, que mais Políbio poderia desejar? Creio que mais nada, salvo saúde e paz, graças de que estamos todos sempre a precisar. O Prêmio Nobel? O Prêmio Jabuti? Certamente que não. Ele é bastante sábio para não pensar nessas coisas distantes, que a tantos tolos afetam. Imortalidades? Ora, também não. Ele sabe que alguma posteridade decorre apenas e tão somente da obra produzida e não de eventuais acidentes ou galardões. Políbio é um homem realizado, serenamente pacificado com seu destino. A vida lhe sorriu, certamente, mas ele fez por onde – e como!

Meu amigo e mestre Wilson Marinho, do alto de sua rica experiência, costuma dizer que o importante não é de onde se parte, mas aonde se chega. Está muito certo. O que importa é aonde se chegou – e como se chegou. Políbio foi longe, tem ido longe, talvez além do que sonhou. Agora chegou à UFPB, cujo doutorado a ele concedido honra mais a instituição que ao agraciado, como deve ser.

Salve a Universidade, salve Políbio, salve a Poesia!

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  1. Eis aí um título justo e merecido, dado a alguém que é importante na cultura de nossa terra.

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