A Folha de São Paulo do dia 1º de setembro nos remeteu a um texto de 31.03.2003, com esta chamada:
“Quadro fez Marcel Proust desmaiar em Haia”.
Isso me devolveu à época em que li, no seu romance de 7 volumes, “Em Busca do Tempo Perdido” , escrito quando Vermeer ainda era um nome bastante apagado, sobre um personagem ⏤ romancista ⏤ que morre ao descobrir que jamais poderia escrever tão belamente quanto Vermeer pintava. Não chego a tanto, mas gosto muito das pequenas telas de Vermeer reproduzindo cenas interiores das casas holandesas no século XVII. Quem leu o romance de Tracy Chevallier ou viu o filme de Peter Webber ⏤ “A Moça com Brinco de Pérola” ⏤ sabe do que falo.
Bem.
Essa leitura de hoje me levou ao Google e à descoberta de que – entre 10 de setembro do ano passado e 2 de janeiro deste ano ⏤ expôs-se, em Dresden, o quadro “Moça lendo uma carta ante a janela aberta” ⏤ aqui reproduzido ⏤ com a restauração que permitiu que se passasse a ver a cena como o pintor a criou: com um cupido emoldurado na parede que víamos, até então, em branco.
Sabia-se que a figura alusiva ao conteúdo da missiva estava ali, desde uma radiografia de 1979, confirmada pela reflectografia infravermelha de 2009, mas se supunha que o próprio gênio de Delft a eliminara, até que em 2017 se descobriu que havia decorrido um bom tempo entre uma coisa e outra, o que levou a conservadora sênior do museu a devolver a criação original ao mundo.
... que nunca para de me surpreender.