Santo Antão (Santo Antônio) foi um famoso anacoreta, designação dada aos Santos que foram para a caverna e passaram quase uma vida inte...

Não há nada mais simples

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Santo Antão (Santo Antônio) foi um famoso anacoreta, designação dada aos Santos que foram para a caverna e passaram quase uma vida inteira no deserto, jejuando, comendo gafanhoto e mel. Morreu aos 105 anos. Foi atacado diariamente pelo demônio, que o elegeu como meta corporativa para perseguir, porque precisava desviá-lo de seu propósito de tornar-se santo. Esse demônio se concentrou em Antônio por quase oito décadas.

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"O Tormento de Santo Antônio"
Michelângelo ▪ 1488
Quando o religioso rezava, era carregado no ar, tema que inspirou Michelângelo a pintar a tela intitulada “Tormento de Santo Antônio”, que mostra o santo atacado por demônios. Quando ele olhava para o crucifixo, via uma mulher nua ao invés de Cristo, quando ele decidia comer, aparecia sobre a mesa a comida mais extraordinária possível. Antão resistiu a tudo. Era um homem excepcional, praticamente um não humano.

Oscar Wilde, poeta dos anos 1870, disse que se suportamos a tentação, é porque ela não foi intensa o suficiente para nos tirar de nosso eixo.

Segundo uma tradição apócrifa, o demônio desistiu de Antão, quando esse chegou aos 105 anos. E disse ao seu alvo de tormento: "Você venceu, pela primeira vez na história, alguém foi mais forte do que eu". O demônio foi embora e Antão agradeceu a Deus com uma simples oração: "Muito obrigado, agora me tornei um santo".

Antão decidiu sobre sua vida e a própria morte, porque depois desse calvário só lhe restou padecer, já que o inimigo arrefeceu os ataques.

Decisão semelhante nos é apresentada no filme "A Despedida". Nele, a atriz Susan Sarandon interpreta a personagem Lily, que sofre de uma doença degenerativa e decide colocar fim à própria existência, antes que a enfermidade
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Susan Sarandon, em "A Despedida" (2019)
Fonte: Imdb
a impeça de tomar qualquer rumo sozinha. O filme não é apenas sobre o direito de escolher o momento da própria morte, mas, principalmente, sobre o direito de viver com dignidade e autonomia, até o fim de seus dias.

A frase que a protagonista mais repete no filme é: "Eu consigo". É quase um grito para preservar sua liberdade de tomar decisões e manter sua independência, únicos substantivos que a tornam uma criatura viva.

Enfrentar a si mesmo é singular e solitário. Tem proporções únicas. E quase como "eu" é um "outro", o que implica aceitar um estranho em "mim", certo estranho já sentido e inseparável de mim ⏤ o estrangeiro dentro do próprio corpo. Sendo assim, sempre amamos estar apenas de um modo novo, "sem mim", e, mesmo assim, na incerteza angustiante, nos reinventar sempre.

Fernando Pessoa nos deixou um poema para pensar sobre esse viver durante: "Se depois de eu morrer, quiserem esquecer a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas ⏤ a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra, todos os dias são meus".

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