escrever/não escrever
escrever é um suicídio branco. um consumir-se no fogo brando das palavras. não escrever, um suicídio em branco. um consumar-se sem metáforas.
escrever é um suicídio branco. um consumir-se no fogo brando das palavras. não escrever, um suicídio em branco. um consumar-se sem metáforas.
relações humanas
naquela época ainda não existia garrafa térmica tanto que acordava a preta velha noite adentro para fazer-lhe café café café café e então a preta velha passou a ser uma garrafa térmica uma espécie de garrafa térmica avant la lettre
naquela época ainda não existia garrafa térmica tanto que acordava a preta velha noite adentro para fazer-lhe café café café café e então a preta velha passou a ser uma garrafa térmica uma espécie de garrafa térmica avant la lettre
noturnos
nas fronhas da infância ensaquei meus sonhos. hoje ensaco pesadelos. e a cada noite - mais do que a cabeça - pesa-me o travesseiro
nas fronhas da infância ensaquei meus sonhos. hoje ensaco pesadelos. e a cada noite - mais do que a cabeça - pesa-me o travesseiro
a Pedro Nava
se a linguagem de nava é um bisturi afiado que extirpa o presente pra restaurar o passado pedro rola as pedras dos seus dias e da base ao cume de cada segundo Pedro suporta o peso do mundo
se a linguagem de nava é um bisturi afiado que extirpa o presente pra restaurar o passado pedro rola as pedras dos seus dias e da base ao cume de cada segundo Pedro suporta o peso do mundo
aniversário
são 56 verões são 56 invernos outonos nem se fala muito menos primaveras até que um dia descarrilharei numa dessas estações e nunca mais verei um verão como este
são 56 verões são 56 invernos outonos nem se fala muito menos primaveras até que um dia descarrilharei numa dessas estações e nunca mais verei um verão como este
antenas de TV
cardumes desgarrados cardumes de telhados cardumes desgarrados do aquá (rio) da
cardumes desgarrados cardumes de telhados cardumes desgarrados do aquá (rio) da
Noturno leitor
Nocturne lecteur, mon semblable, mon frère: livros acendem luzes! Borges ou Baudelaire consome-nos energia. Custa uma fábula - em volts - a leitura de p(Rosa) e de (Poe)sia.
Nocturne lecteur, mon semblable, mon frère: livros acendem luzes! Borges ou Baudelaire consome-nos energia. Custa uma fábula - em volts - a leitura de p(Rosa) e de (Poe)sia.
MEU PAI
Parece que estou vendo: Os olhos fixos no portão À espera da visita, Da visita que vem Entre tagarela e indiferente Com um punhado de flores... E o portão é uma boca, Uma boca enorme, Boca escancarada. E em tudo e por tudo, A tristeza do cemitério. Meu pai lá deve estar, Sentado à beira do túmulo, Os olhos fixos no portão.
Parece que estou vendo: Os olhos fixos no portão À espera da visita, Da visita que vem Entre tagarela e indiferente Com um punhado de flores... E o portão é uma boca, Uma boca enorme, Boca escancarada. E em tudo e por tudo, A tristeza do cemitério. Meu pai lá deve estar, Sentado à beira do túmulo, Os olhos fixos no portão.
(Poema de Petrônio de Castro Pinto, pai do autor)