Recentemente, mais que surpreso, li em Jornal de circulação estadual no dia 7/8/2022 matéria totalmente inverídica sobre o ex-deputa...

Em defesa da memória de Plínio Lemos

plinio lemos historia politica paraiba
Recentemente, mais que surpreso, li em Jornal de circulação estadual no dia 7/8/2022 matéria totalmente inverídica sobre o ex-deputado federal e ex-prefeito de Campina Grande Plínio Lemos. O texto foi escrito com base no livro História de Campina Grande: “De aldeia a metrópole”. Trata-se de algo tão fantasioso quanto a foto também publicada no mesmo espaço. Sim, a fotografia, ao contrário do que lá se diz, NÃO é de Plínio Lemos, mas do Dr. Elpídio de Almeida — o que, por si só, já demonstra total falta de conhecimento do que é relatado. Deduz-se desse erro grosseiro que, talvez, a única preocupação tenha sido a de publicar a matéria a qualquer custo, sem o mais mínimo compromisso com a verdade.

Acervo familiar
Embora Engenheiro de Minas por formação, com Mestrado e Doutorado no Canadá e Professor Universitário por mais de 40 anos em Universidades do Brasil e do Exterior, sempre enveredei pelo acurado estudo da História, com a finalidade precípua de resgatar a autêntica saga política que foi a vida de meu avô, o Dr. Plínio Lemos, nascido na cidade de Areia (PB) em 03/04/1903 e bacharelado pela Faculdade de Direito de Minas Gerais no ano de 1928. Foi advogado, Promotor de Justiça na Paraíba e em Minas Gerais, oficial de Gabinete do Ministério da Viação e Obras Públicas, empresário, deputado federal por várias vezes e Prefeito de Campina Grande. Participou ativamente de todos os eventos políticos ocorridos no Brasil de 1922, enquanto estudante da Faculdade de Direito do Recife até 1978, quando retirou-se definitivamente da vida pública, envergonhado com os rumos que a política levava.

A descrição de um fato histórico exige conhecimento e honestidade, simplesmente para evitarmos caminhos tortuosos que levem à deturpação dos fatos. Só existem três formas de descrever um fato histórico:

1) o mais fidedigno é ser ele relatado por quem dele participou; 2) menos precisamente, mas ainda com alguma veracidade, é ser contado por alguém que ouviu a história contada por quem de fato participou da ocorrência; 3) descrever o fato com base no que se tem escrito em torno dele, pesquisando cuidadosamente as fontes disponíveis e trazendo à baila sua própria versão.

No “artigo” a que nos referimos, nada disso ocorre. O livro em que se baseou (a citada História de Campina Grande) traz apenas as opiniões pessoais dos autores, o que em nada contribui para a História com agá maiúsculo — para o que de fato ocorreu. Por exemplo, na seção 12.3 desse livro, lê-se que Plínio Lemos foi “um prefeito impopular”. Essa afirmação falaciosa em nada reflete a realidade histórica, tanto do ponto de vista administrativo, quanto do político. Vamos nos deter apenas no aspecto político, pois o administrativo será esclarecido muito em breve com a publicação de um livro de nossa lavra, retratando justamente a vida de Plínio Lemos, com farta documentação indesmentível. Mas, logo aqui e agora, o leitor poderá facilmente avaliar essa suposta impopularidade…

Acervo familiar
Na eleição de 1951 para a Prefeitura de Campina Grande, Plínio se elegeu Prefeito com uma margem de 2 mil 785 votos (pouco mais de 10% do colégio eleitoral), contra a MAIOR liderança política de Campina Grande, Argemiro de Figueiredo — que já fora Secretário de Estado, Governador e Interventor Federal.

Depois disso, Plínio ainda se elegeu deputado federal por três Legislaturas, afora o tempo que assumiu como suplente, na Câmara dos Deputados. Eis a comprovação de que de impopular ele NADA tinha! Bem ao contrário, era homem probo, de reputação ilibada e acima de qualquer suspeita. Quem diz que Plínio era “impopular”, desconhece “in totum” a História e apenas reflete antigas paixões politiqueiras não devidamente assimiladas…

Acervo familiar
O incorretíssimo texto também se refere ao mui lamentável assassinato do vereador Félix Araújo. Muito já se escreveu sobre este assunto, mas quem conhece a História da Paraíba sabe: os autores que melhor refletiram a realidade desse sangrento episódio foram, sem a menor sombra de dúvidas:

1) o escritor Alcides de Albuquerque do Ó, no livro Campina Grande: História e Política – 1945 a 1955; 2) o escritor Josué Sylvestre, em sua obra denominada Lutas de vida e morte.

Em ambos os volumes, a descrição das múltiplas circunstâncias daquele brutal assassinato é muito parecida uma com a outra, dando a entender que o crime aconteceu da forma descrita por esses dois autênticos historiadores — e não como o descrito por esses autores que não viveram a época nem a estudaram verdadeiramente.

É uma lástima que, ainda hoje, pessoas despreparadas tentem descrever esse assassinato de forma tão leviana e descaracterizada, em nada refletindo a realidade do sangrento e lamentabilíssimo episódio. Esses “autores”, que pouco ou quase nada conhecem da autêntica vida da sempre heroica cidade de Campina Grande, chegam a dizer que o assassino confesso de Félix Araújo, João Madeira, era funcionário de Plínio.

@retalhoscg
Não pode haver afirmação mais mentirosa. João Madeira chegara a Campina Grande por problemas com a Justiça de Pernambuco. Pedira ao vice-prefeito de então, Lafayette Cavalcanti, uma posição na Prefeitura, para dar início à sua nova vida na Rainha da Borborema. Satisfazendo a seu pedido, o então secretário municipal Raymundo Asfora o colocou como fiscal da feira.

Portanto, esse sujeito, o Madeira, vivia da feira central para a Prefeitura, logo fazendo amizade com pessoas que trabalhavam na Administração municipal, inclusive secretários. A primeira vez que o então Prefeito campinense Plínio Lemos o viu, ele estava na entrada da sede da Prefeitura. E ficou muito surpreso com tal presença, pois o referido indivíduo agia com a maior desenvoltura. Assim, ao chegar a seu Gabinete, procurou saber com o secretário Asfora quem era aquela figura. Asfora relatou tudo o que sabia do sujeito e Plínio, sempre muito prudente, determinou de imediato: não mais o queria ver nas dependências da Prefeitura: “que ele permaneça no local designado para seu trabalho, a feira”. Essa foi, como mostra o testemunho histórico, a primeira e última vez que Plínio viu o assassino de Félix, João Madeira.

Felizmente, ainda hoje estão vivas pessoas que viram pessoalmente toda a discussão e os tiros que se seguiram. E um fato nem sempre lembrado: primeiro Félix atirou em Madeira, que revidou, dando-lhe o tiro fatal. São pessoas que nunca quiseram se envolver com os fatos daquele fatídico período — mas que, particularmente, conosco mantiveram longas e esclarecedoras conversas. Vocês não perdem por esperar um pouco mais pelo livro que estou concluindo sobre a vida de Plínio Lemos, incluindo esse importantíssimo capítulo da vida campinense!

Acervo familiar
Ao publicar tal ou qual foto, deveriam os autores de um artigo ter muito cuidado para se certificarem se o retrato representa verdadeiramente a pessoa citada. Num erro mais que crasso, a foto que saiu com a matéria inexata NÃO é, como já dissemos, do Dr. Plínio Lemos, mas do Dr. Elpídio de Almeida... Para corrigir isto, enviamos, em anexo, uma foto autêntica de meu avô Plínio. E reitero: ainda no corrente ano, sairá nosso livro contendo a visão dele sobre todos os fatos políticos ocorridos de 1922 a 1978, período em que Plínio Lemos mostrou-se mais ativo na vida político-administrativa da Paraíba, do Nordeste e do Brasil. Sem erros crassos, porque com farta documentação, como exige a História com H maiúsculo.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Arael M. da Costa10/9/22 12:23

    Conheci, não pessoalmente, mas como personagens distintas, na política paraibana e confesso nunca ter ouvido, à época, e depois já militando na imprensa pessoense nenuma nota desabonadora a respeito desses líderes políticos campinenses, a quem a cidade muito deve, com o deve a outros, de merecimento semelhante, as suas reverências e o reconhecimento da sociedade.

    ResponderExcluir

leia também