Basta a alusão. O prefeito não precisa apertar ainda mais seus olhos, escapulir das urgências, para entrar em forma com a meninada a...

Dia da árvore

Basta a alusão. O prefeito não precisa apertar ainda mais seus olhos, escapulir das urgências, para entrar em forma com a meninada azul e branco da escola mais próxima, como fazia o antigo antecessor Oliveira Lima no tentame de incluir a muda de cássia entre os oitizeiros anosos do paço municipal, na praça Rio Branco. O tentame valeu: oito ou dez anos depois, quando Oliveira Lima se exilou ou foi exilado da política, a cidade-jardim, assim chamada por d. Alice Monteiro em poema de 1922, na Era Nova, seria reconsagrada como “cidade das acácias.” Debalde Lauro Xavier tentava explicar que não era acácia, e sim cássias as que saíram brotando fácil e aos milhares das mãos ou dos dedos verdes do dr. Luiz.

B. Blooms
Não vem de graça, portanto, o vergel que orna a imagem mais visível da cidade, desde a Frederica de ar sutil assim descrita pelo poeta holandês que a governou. Se não é ilha é península de matas e lavouras cercadas de água doce por todos os lados, menos o de puro sal que vai do Bessa a Cabedelo. Mesmo na beira-mar, plantando na areia, José Américo colhia manga e laranja que não davam em terras de juá, sobrepesando na galhas do seu quintal.

“É que o senhor tem mão boa” – ajuntou alguém para agradar, eu mesmo, possivelmente.” E ele, sem achar ruim: “ Não, não é isso, é o ar da terra minada de rios.” Minar, surtir por baixo dos rios do entorno e, por dentro, da riacharia miúda.

Nessa manhã de véspera, sem nuvens de cúmulos ou de nimbos tudo concorre para me enverdecer a memória. Da folhinha do dia que a Editora Vozes não relaxa, ao meu amigo Martinho Moreira Franco, na minha tentativa de contribuir para reunirmos em livro o sentimento da vida ou do mundo que ele nos legou a cada crônica.
Mauro Halpern
Numa manhã de sol auspicioso como a que me animou anteontem a meter a mão nos guardados, lá vem “Um dia especial” assinada por Moreira “em tempos de pandemia, um domingo, para esquecer o inimigo invisível e lembrar que a vida é para ser vista com bons olhos”. E expressa a seu modo num solfejo de poesia musicada que era a que mais lhe acontecia nas crônicas do coração: “Um dia branco, feito da canção de Geraldo Azevedo. Um dia que ‘promete sol, se o sol sair, ou a chuva, se a chuva cair (...) Como quer o poeta ‘numa praça, na beira do mar ou num pedaço de qualquer lugar (...) um dia branco, se branco ele for.”

Poetiza-se a seu gosto, embalando a crônica “no cristal da garganta de Gal Costa”, para terminar reembolsando-me, jovem transeunte, àquela manhã igualmente branca de 1951 ou 52 em que, por pouco não me incorporava aos meninos e meninas aos quais o prefeito Oliveira ensinava a plantar.

“Talvez os parques e as praças estejam quase desertos de pessoas – saudava o menino de Jaguaribe – mas as plantas e as árvores não negarão aos eventuais transeuntes as emanações do perfume nem o sortilégio dos ventos matinais. No caso de João Pessoa, a cidade ainda é rica em bolsões de clorofila para desfrute vegetal dos seus moradores”.


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