Venho de receber do amigo Mirabeau Dias estas duas preciosas fotos cinematográficas. No dia 11 de setembro de 1937 era inaugurado em Jo...

Cine Teatro, João Pessoa

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Venho de receber do amigo Mirabeau Dias estas duas preciosas fotos cinematográficas. No dia 11 de setembro de 1937 era inaugurado em João Pessoa o Cine Teatro Plaza.

As fotos são históricas, mas também sentimentais. Em 37 eu nem sonhava nascer, porém, o Plaza iria ser, anos adiante, um dos cinemas de centro que mais frequentei e do qual sinto mais saudade. Sobretudo quando – antes da reforma de 1963 – ele ainda tinha aquela fachada semelhante à da foto.

AcervoM. Dias
Mas as fotos me dizem mais. Por trás da elegante e ilustre multidão na frente do cinema, corro a vista, curioso, pra saber que película (era assim que se dizia na época) fez a inauguração desta tão importante casa de espetáculo pessoense.

E com que surpresa e prazer cinéfilo vejo que, anunciado no cartaz, o primeiro filme a ser exibido no Plaza foi um que amo, naturalmente só visto muito mais tarde, em VHS ou DVD: o “Fogo de outono” (“Dodsworth”, 1936), de William Wyler, também um diretor que amo, com um ator que também amo, Walter Huston,
Walter Huston e Mary Astor, em Fogo de Outono (1936) ▪ Dir. William Wyler
aliás, baseado num romance de um escritor que também amo, Sinclair Lewis. E tudo isso, no amado Plaza. Que conjunção de prazeres!

Pra quem não lembra, ou não conhece, “Fogo de Outono” é um belo drama adulto sobre a dor de perder o vigor da juventude; de, em idade madura, ver o fogo das paixões se apagar, sem (ou com) a esperança de renovação.

Os Dodsworth são casados há muito tempo e amargam o tédio de uma relação em declínio. Com a aposentadoria dele, o casal decide por uma viagem à Europa, como se turismo de luxo pudesse acender o “fogo de outono” do título do filme. Um flerte fora do casamento aqui, outro ali (tanto dela quanto dele), o casal por fim toma consciência de que a crise conjugal não tem volta e, após alguns vai-e-vens amorosos, optam pela separação.

Naturalmente, este resumo apressado trai a essência do filme, e pior, sua qualidade. Qualidade garantida pela mão hábil e elegante de Wyler, e sustentada por um elenco primoroso: Walter Huston como o marido melancólico, Ruth Chestterton como a esposa em crise etária. Pois é, relembrando o filme, não consigo deixar de me indagar como é que, com apenas 41 anos de idade, essa arte, chamada de sétima, já conseguia ser assim madura.

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Outra coisa que, olhando as fotos, me ocorre é como será que essa plateia de sisudos cidadãos e cidadãs reagiu a um filme tão avançado para a época. Quem, na João Pessoa dos anos trinta, pensaria em divórcio, por quaisquer razões, mais ainda pela admissão de que dois adultos perdidos dentro de uma relação vazia, teriam o direto a uma existência autônoma?

Para a inauguração de um cinema pessoense nos anos trinta eu imaginaria alguma coisa como um musical de Busby Berkely, ou uma comédia dos irmãos Marx, ou alguma aventura extravagante de Cecil B. DeMille...

Enfim, é reconfortante pensar que o Plaza começou maduro e grande...

Saudades.


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