Numa noite muito agradável, neste dia 7 de Setembro, Ilma e eu, acompanhados do meu irmão Humberto, nos dirigimos ao teatro Pedra do R...

Chico Buarque ao vivo: novo encanto

Numa noite muito agradável, neste dia 7 de Setembro, Ilma e eu, acompanhados do meu irmão Humberto, nos dirigimos ao teatro Pedra do Reino para assistir a apresentação de Chico Buarque em João Pessoa. Diferente de Humberto, esta seria a nossa avant-premiére, pois nunca havíamos assistido antes a um show de Chico ao vivo.

O teatro estava lotado. Do balcão dava para ver todos os lugares ocupados, a platéia predominantemente jovem, mas salpicada de cabeças prateadas de saudosistas, qual um céu estrelado. O espetáculo demorou quase meia hora para começar, mas valeu à pena esperar, tantas manifestações de humor e de criatividade aconteceram. No ar, um verdadeiro frisson pelo início do espetáculo. Para nós dois não era nada, uma espera de longos anos.

@MonicaSalmasoOficial
O show iniciou-se com a cantora Mônica Salmaso, que eu não conhecia. Ficamos encantados com a voz maviosa, muito musical, lembrando uma doce flauta. Cantou, de saída, várias músicas de Chico, algumas inéditas para nós. Logo entrou Chico, para fazer o primeiro dueto com ela, na linda canção Sem Fantasia. A platéia veio ao delírio!

Chico cantou dezenas de músicas, a maioria desconhecida por nós, porém todas muito bonitas.

O conjunto que o acompanhava compunha-se de sete exímios músicos, com destaque para o velho Chico Batera na percussão. O som acompanhando a performance do cantor, sempre agradável, nunca alto demais. E que som! A execução de todas as músicas foi perfeita. Ritmo, harmonia, instrumental impecável: bateria, piano, contrabaixo, saxofone, percussão, guitarra. O compasso era alternado entre o piano, o contrabaixo e a bateria.

Foi uma noite completa. Ouvimos, valsamos e dançamos cheek-to-cheek, aplaudimos e rimos muito. Aconteceram algumas manifestações políticas, inevitáveis nesta época de eleição. Porém bem humoradas e criativas.

Após longo tempo afastado, reencontrei o Chico Buarque dos velhos tempos. A mesma voz, a mesma música, a mesma poesia que sempre nos encantaram.

@ChicoBuarque
A mesma genialidade no jogo de palavras, de sílabas, na sua canção Subúrbio , para mostrar como os bairros pobres são abandonados ele diz: “... Lá tem Jesus, e está de costas...

Que composição poética! Os subúrbios do Rio de Janeiro, tema da canção, estão por trás do Corcovado, e de lá se vê o Cristo Redentor de costas.

Chico Buarque homenageou em suas canções grandes nomes da música brasileira: Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Caetano Veloso


Chorei ao ouvir algumas das músicas que me remeteram ao passado. De repente lá estava eu flutuando de volta aos anos 1960. Pousei na sala de nossa casa, observando a cara de satisfação do meu irmão João Neto, ao tocar na radiola o primeiro LP de Chico Buarque que chegou a João Pessoa.

@ChicoBuarque
Revisitei o nosso terraço, assistindo às discussões intermináveis do mano Paulo Fernando com o primo Clóvis Maia, que defendia a linda canção Carolina com unhas e dentes.

Relembrei o meu encantamento juvenil quando ouvi A Banda pela primeira vez, quando vi a minha irmã Francisca Luiza e a prima Edilma torcendo pela Banda no Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record. E a minha mãe Nair, ouvindo Máscara Negra, que ela adorava.

Revisitei a cobertura do Dr. Toni, numa tarde de sábado, onde João Neto, Sérgio Tavares e Aléssio Toni comentavam sobre o mais novo disco de Chico Buarque. Logo mais eu estava no terraço da casa de Zélia Pessoa, que escutava um LP de Chico na companhia embevecida de Lae Trindade e Maria Eunice.

Vi-me enfrentando a polícia nas passeatas de protesto contra a ditadura militar, portando cartazes de Flávio Tavares, correndo da Catedral Metropolitana para o Cassino da Lagoa, que à época era o restaurante Universitário.

@ChicoBuarque
Relembrei Construção, que é a minha canção predileta do Chico. Infelizmente não foi tocada no show. Acho que Chico num sabia que eu me encontrava na platéia…

Entusiasmei-me com a resistência cultural cujo símbolo maior é o próprio Chico Buarque, em canções como Apesar de Você e Cálice. Revi o filme Bye-bye, Brasil, com Bete Faria rodando a bolsinha ao som da música-título: “... Tem um japonês trás de mim ...”

@ChicoBuarque
Desci a Ladeira do Pelourinho acompanhando Dona Flor e Vadinho, nu, ao som da canção O Que Será. Voltei a me emocionar com a crítica amarga à natureza humana, na canção Geni y e o Zepelin : “... Joga pedra na Geni...”

Logo a seguir eu estava no nosso apartamento de São Paulo, botando Henrique para dormir ao som de Passaredo, enquanto Ilma amametava Ricardo.

Voltei a pousar no Teatro Pedra do Reino, a minha viagem interrompida pelos aplausos da platéia, pedindo bis.


Esse foi um dos melhores shows de minha vida. E um dos maiores espetáculos do teatro Pedra do Reino. Saímos do teatro quase que flutuando, tão leves nos sentíamos.

@ChicoBuarque
O espetáculo serviu para me mostrar o quanto Chico Buarque está presente na nossa vida. Ilma tem razão, quando ao final disse-me que esse foi mais um grande momento em nossa vida comum. E olha que já vivemos muitos momentos juntos.

Bem vindo, Chico. Até o próximo espetáculo, você não perde por nos esperar!


Epílogo

Ao chegar em casa, embora a hora já estivesse avançada, não me contive e ouvi o CD Construção. Não me lembrava mais desse álbum, e voltei a me extasiar com as suas músicas.

Quanta riqueza! São canções que marcaram uma época. Construção , Deus lhe Pague, Valsinha, Cotidiano...

Para completar, vou procurar assistir novamente, em DVD, ao espetáculo Chico e Caetano, o que mais me influenciou.

Mas isso fica para outra noite

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  1. JOSE MARIO ESPINOLA14/9/22 22:49

    Obrigado, amigos! Chico é tão que atravessa gerações: meus filhos, netos e sobrinho-neto tambem adoram CBH

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  2. Excelente relato de uma época onde a consciência misturava- se com a beleza , com a poesia e com o amor. Pensávamos, debatíamos, líamos. As ideias trocadas ao som de Chico nos enriqueciam, tempo que não voltam mas as lembranças permaneceram. Também viagem nesse tempo lendo- te em caminhos diferentes....!! Parabéns por tal sensibilidade digna de um escritor poeta. Um abraco.

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  3. Pela pena de José Mário conseguimos adentrar num universo sócioemocional envolto de presente-passado em um mesmo momento. Muito bom saber que Chico Buarte está "em campo". Melhor ainda relembrar a saudosa memória de Paulo Fernando e Clóvis Maia, duas figuras que fazem muita falta! Também não resisti e coloquei na radiola a música Rosa dos Ventos, a melhor de Chico em minha opinião.

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  4. Lembranças, são sempre lembranças que nos levam a momentos marcantes de nossa vida, recordando-nos de momentos que foram só nossos.

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