É o que te pergunto enquanto, mergulhada no silêncio ameno da tarde, penso em ti após ler a tua mensagem.
Dizes que abres as tuas gavetas de alma e não gostas do que encontras. Talvez por isso eu perceba a tua tristeza.
Falas que tuas atitudes, palavras e ações mostram orgulho, autoritarismo, prepotência, intolerante juízo e, em alguns momentos, até uma certa maldade. Lamentas as mágoas, culpas, raivas e rancores que habitam as tuas memórias e me dizes sem rodeios que te sentes um monstro.
É nesse instante que te vejo como um céu no qual se apagaram todas as estrelas.
Eu me pergunto por que fazes tal coisa contigo. Por que te torturas dessa forma, sendo que todos nós carregamos sombras? Tu não és exceção. Tu és humana e tens ao alcance dos ouvidos a voz dúbia dos seres amados, ora plenas de doçuras, ora carregada de adagas. Não te enganes: podem ser juízes severos aqueles a quem amamos. Pais, filhos, irmãos, amigos – quem escapou de suas críticas? Suas palavras nos doem nos ouvidos mais que as dos desconhecidos, estendendo garras no peito. Por vezes podem ser fundamente cruéis, dolorosamente exigentes. Por vezes nos traem enquanto nos beijam o rosto, nos renegam, nos abandonam na hora de dor, nos caluniam. Na maioria das vezes, também eles não são monstros - apenas humanos que se equivocam e perdem os limites. Embora sofrido, faz parte da roda da vida esse tipo de experiência.
Quando teus queridos despejarem sobre ti as suas frustrações e mágoas, respira fundo e abre os braços ao aprendizado. Ouve com atenção, medita sobre o que escutas a fim de corrigires as tuas atitudes futuras. Mas separa o joio do trigo, analisa com racionalidade as acusações que te fazem e usa apenas as justas como matéria-prima do teu aprimoramento. Jamais permitas te maltratem a ponto de perderes a tua humanidade e veres um monstro no espelho.
Vive a tua vida hoje. Aprende com o teu passado e segue em paz, pois a morte não tarda e é preciso viver bem neste exato instante, quando as oportunidades se reconstroem.
Assim, não esqueças o amor. Esse amor simples e generoso que devemos a nós mesmos, pois caminhamos sozinhos (isso é fato), carregando as nossas almas cansadas.
Não esqueças o amor, é tudo o que te peço.
Acende novamente as estrelas.