Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisa...

Às margens do Paraíba

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Quando nos aproximamos das margens do Rio Paraíba, depois de São Miguel de Taipu, em demanda do Pilar, ao olhar de relance para a paisagem, as personagens de José Lins do Rego saíram das páginas de seus romances, como fizeram há décadas, quando por esse mesmo caminho cheguei ao Engenho Corredor.

Repórter principiante e leitor revelado nas páginas de Menino de Engenho, carregava comigo o gosto da garapa e o cheiro do mel cozido dos engenhos de Chico Frazão e de Antônio Carvalho, quando percebi no Corredor as paisagens de menino que ficaram em Serraria.
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As páginas de José Lins revelavam o que eu trazia escondido no coração.

Na tarde quando voltei a passar pela beira do rio, estava mais na paisagem dos engenhos do começo do século XX, e menos no verde das cajaranas dos tempos atuais. Mas os canaviais verdosos de outrora, com o cheiro de jasmim e as flores dos ipês roxos, repuxaram-me às páginas que trazem revelações que a alma retém.

As narrativas de José Lins renovam as alegrias porque carregam a alma de nossa gente. O mundo que descreveu traz emoção. Mais uma vez, naquelas paisagens, a beleza da arte foi relevada como possibilidade de salvar viva.

Enquanto caminhava pela estrada onde, outrora, o coronel José Paulino em seu cavalo esquipador, com sela coberta de coxim macio, tilintavam as campainhas do cabriolé do velho Lula de Holanda e aos meus ouvidos chegava o som do piano da solteirona Neném. O repique do sino na Igreja continua a revelar o chamado à missa dominical. Até escutei o capitão Vitorino Carneiro da Cunha abilolado a pronunciar despautérios contra os moleques, as personalidades políticas e autoridades policiais, com seu rebenque a rodopiar no ar para açoitar quem o chamasse de Papa-rabo.

Quando me dei conta, estava em frente da antiga Casa da Câmara e Cadeia, abismado com sua imponência, a recordar as cenas que, no passado, este prédio testemunhou.
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Paredes que contam a história de resistência, um tanto esquecida. Do frontal alarguei a vista em demanda da extensa praça, como se estivesse numa manhã de domingo, de feira e de missa, quando a cabroeira dos engenhos frequentava a feira de mangai, que o tempo apagou.

Lembrei que ali esteve Dom Pedro II, o que bastaria para fazer memória do lugar, apesar do prédio testemunhar outros momentos, como a presença de Antônio Silvino, cangaceiro respeitado que libertou presos sem temer represálias. Quando estava estropiado devido às andanças pelas caatingas do Sertão, este cangaceiro vinha desfrutar da fresca das várzeas do Paraíba. Foi em uma dessas viagens que abriu as grades de ferro da prisão para a liberdade. Me pareceram ainda ter as marcas das suas mãos.

O encarnado do entardecer cobria telhados sujos de lodo, deixava a paisagem urbana-rural com bonito aspecto. As paredes grossas e as janelas amplas davam leveza ao ambiente dos antigos coronéis, donos das terras e de almas. Nas salas reluzia o Sol que chegava por entre as frinchas das janelas, enquanto se fazia memória aos heróis revelados há 200 anos em atos pela liberdade.

Sempre retorno a Pilar, cada vez mais nas páginas de José Lins e pelas margens do Rio Paraíba.

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  1. Viagem que nossos alunos do ensino fundamental sempre deveriam fazer, com uma parada na bagaceira, para tomar um pouco de garapa de mel de engenho.

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