Depois de aposentado resolvi fazer do ócio uma forma de melhor conviver com os fatos ocorridos na Paraíba e no Brasil.
As caminhadas matinais pela orla de Tambaú, que mais parece um jardim a encantar a fímbria que é o mar da Paraíba, sempre em boas companhias, aliás bastante ecléticas, têm revigorado meu pensamento. Foi aí que no dia 7 de agosto de 2022 próximo passado, caí na insensatez de assistir ao debate dos candidatos ao Governo de meu Estado, promovido pela Rede Band de Televisão.
As caminhadas matinais pela orla de Tambaú, que mais parece um jardim a encantar a fímbria que é o mar da Paraíba, sempre em boas companhias, aliás bastante ecléticas, têm revigorado meu pensamento. Foi aí que no dia 7 de agosto de 2022 próximo passado, caí na insensatez de assistir ao debate dos candidatos ao Governo de meu Estado, promovido pela Rede Band de Televisão.
Qual não foi minha surpresa, tive o desprazer ao verificar que as práticas políticas dos candidatos pouco ou quase nada mudaram. Senão vejamos o que ocorre nos nossos dias.
Dos sete postulantes que participaram do debate, apenas três demonstraram ter algum conteúdo, mesmo porque dois deles são provenientes das velhas oligarquias que por muitos anos comandaram a política estadual. O novo poderia ser o governador João Azevedo, que embora tivesse sido eleito a reboque de Ricardo Coutinho, poderia ter aproveitado as circunstâncias e modificado o cenário político estadual. Até que tentou, colocando na máquina administrativa estadual pessoas que não tinham compromisso com o que havia de mais atrasado no estado: entra avô, depois vem o pai, continua com o neto, filho sobrinho, etc, permanecendo tudo na mesmice de sempre. Sem dispor de qualquer respaldo político tradicional, o que lhe poderia até trazer alguma vantagem, terminou aprendendo as mesmas práticas dos adversários, com o agravante de seus secretários em nada, em nada mesmo ajudarem. Aliás, prejudicaram, como fez o secretário da Educação, ao afirmar que, por quatro anos, não construíra sequer uma escola, algo inadmissível nos tempos atuais.
Dos outros seis candidatos, quatro sequer servem como coadjuvantes. Para eles, o objetivo único parece ter sido apenas aquele de desqualificar os candidatos com alguma chance de ganhar o pleito. É uma vergonha permitir que esse tipo de candidato participe de uma discussão que deveria apresentar um alto nível, quando menos por ser algo tão importante para a vida política, institucional e administrativa de nosso Estado. Afinal, está-se procurando eleger um dirigente para comandar por quatro anos uma Unidade da Federação cujos cidadãos desejam o melhor para si e para toda a comunidade.
Para que os debates fossem produtivos, as TVs deveriam escolher aqueles postulantes que realmente dispusessem de alguma chance de vencer. Enquanto isso não acontece, ficam alguns apenas usufruindo do Fundo Partidário, ao mesmo tempo que tentam de alguma forma denegrir a imagem pessoal e pública dos poucos que de fato se propõem a administrar conscenciosamente seu torrão natal.
Apesar de ter nascido na Paraíba, passei grande parte de minha vida entre o Rio de Janeiro, Brasília, Minas Gerais e o Canadá. Retornei ao meu Estado natal apenas em 1980, com o objetivo de contribuir para o seu desenvolvimento. Emprestei minha parcela de contribuição ao progresso de meu povo, trabalhando com afinco na FAPESQ (Fundação de Apoio a Pesquisa) como Presidente, na CDRM (Cia de Desenvolvimento de Recursos Minerais) como Diretor de Operações, na UFPB, e na UFCG como Chefe de Gabinete da Reitoria e Prefeito Universitário. Construímos os campus universitários de Cuité, Pombal, Sumé e Sousa, na tentativa de dar oportunidades iguais à juventude paraibana. Além do mais, por algum tempo, pensei que fizera a coisa certa.
Mas os últimos fatos políticos me têm conduzido a uma perigosa e infinita descrença sobre se realmente não há algum jeito para nosso Estado. A autêntica “guerra” entre facções políticas até agora somente trouxeram atraso à Paraíba, sem que haja a perspectiva de que as coisas melhorem a curto prazo. Hoje, o que vemos, nos três candidatos que realmente têm chance de chegar a Governador, é o desejo desenfreado de vencer a todo custo, de suplantar os demais de qualquer forma, constatando-se inclusive uma das alianças mais espúrias de que se tem conhecimento na infelicitada História Política da Paraíba.
E devemos nos perguntar, com muita responsabilidade: será que simplesmente o fato de se chegar a Governador do Estado, a Senador da República, a Deputado Federal já credencia alguém para o posto de maior relevância do Estado? Tenho ouvido muitas reclamações em torno da atuação política de três desses postulantes com maior cacife de vitória. O atual Governador, o Sr. João Azevedo, até teria mais possibilidades de êxito, por já estar no cargo; mas seus Secretários não ajudam muito do ponto de vista político. Mas o atual Chefe do Executivo até que conta, um pouco, com minha admiração, pois não tem qualquer passado verdadeiramente político.
Quanto ao Sr. Veneziano Vital do Rêgo, trata-se de um cidadão de boa índole, embora provindo de uma oligarquia familiar que comandou os destinos da Paraíba, ao tempo em que o Estado dispunha de dirigentes de verdade. Seu avô, Pedro Moreno Gondim, foi de fato homem de respeito que sempre soube honrar os cargos que ocupou. Nunca interferiu politicamente para fazer de seus netos homens públicos, como ele o fora. Não menos diferente foi seu pai, advogado de valor e político correto. Como prefeito de Campina Grande fez uma boa primeira gestão, não se confirmando na segunda, como é de praxe. Por esses fatos, Veneziano também conta com minha admiração.
Já o Pedro mostra-se, em verdade, como de fato é: um menino de boas intenções, sem vícios — mas que vem desde sempre na esteira de seus parentes, sejam eles bisavós, avós e pais. Tem igualmente minha admiração, embora venha se juntando com o que há de mais ultrapassado na História da Política em nossa pobre Paraíba. Sua ligação com o candidato ao senado do União Brasil é o que me deixa mais preocupado, pois foi este partido que mais atrasou o país, inclusive por muito tempo comandando o famigerado “Centrão”, que teima em se locupletar do poder. Ainda mais, para não perder a boquinha, coloca o irmão para ser candidato a Deputado Estadual.
O pior é que um candidato a Deputado Federal do Partido Liberal, coloca os filhos como candidatos ao Senado e à Assembleia Legislativa, como se a política fosse um assunto caseiro. É a excrescência do “Fundo Partidário” que distribuiu 5 bilhões para farra política. Se a campanha fosse feita com recursos próprios, dificilmente isso aconteceria. Quantas escolas e hospitais não seriam construídos com esses recursos, mas preferiram, sem pudor, fazer farra com nosso dinheiro. A política é um sacerdócio e não um negócio familiar.
Tenho admiração pelo comportamento político de Pedro, mas acho que podia esperar mais um pouco.
Os demais contendores, sem qualquer preconceito ou desrespeito, não merecem meu comentário. E o desenrolar da campanha saberá colocar os três em suas devidas posições.
Mas o que me deixa preocupado é a participação dos quatro restantes candidatos, que em nada contribuirão para o bom, franco e sereno debate das idéias. Foi por isso, foi por esta minha preocupação, que perguntei a vários amigos em quem iriam votar na próxima eleição estadual. A resposta foi a de que não iriam mais votar em ninguém, pois todos os políticos eram desonestos.
Tanto quanto a maioria da população, sei que, infelizmente, existem muitos políticos desonestos, que pregam a salvação do Estado, apenas na época eleitoral, mas que, uma vez elevados a seus cargos, usam a Política partidária e os cargos públicos para a mais deslavada prática de corrupção. Mas sei também que existem políticos sérios e comprometidos com a melhoria das condições de vida das parcelas oprimidas do povo paraibano.
É preciso lembrar, ainda, que essa atitude passiva (por exemplo, a de “não votar em ninguém”) da maioria da população apenas beneficia os políticos sem compromisso com o povo, deixando o caminho livre para que os corruptos façam suas campanhas milionárias com o dinheiro do povo — isto é, para que sejam eleitos de maneira desonesta.
Assim, o povo precisa ser mais consciente, para não se transformar num analfabeto político, de acordo com o que temia Brecht. Não podemos jogar fora a maior oportunidade que temos para exercer a cidadania. O voto constitui a única esperança de escolhermos dirigentes que não recebam dinheiro de empresários e/ou que não usem o Poder para se locupletar em tempos de eleição.
Só devemos votar em candidatos que não se prestem a fazer o nojento papel de realizar campanhas milionárias com o único objetivo de manipularem a seu bel-prazer a opinião pública, porque encaram a política partidária como a profissão dos que colocam os interesses coletivos acima dos interesses individuais ou grupais.
Outra preocupação é quanto às promessas feitas em tempo de eleição. É fato que os eleitos preferem honrar os compromissos feitos às escondidas com aqueles que se locupletam do Poder, explorando a força de trabalho do povo, mas usufruindo sozinhos, com os gordos lucros.
São esses, que além do fundo partidário, ajudam a financiar as campanhas, que ganham os cargos, ganham as obras, ganham as licitações do Governo. É com tal dinheiro sujo que esses candidatos financiam suas campanhas, pagando caríssimos programas eleitorais enganadores e de baixo nível, geralmente elaborados por agências comandadas por parentes, aderentes e os tais amigos do peito. São essas as pessoas que impõem à população severas restrições às liberdades individuais.
Minha maior indignação é quanto às promessas feitas em tempos de eleição. Dizem que vão “aumentar salários”, “dar empregos”, “acabar com a fome'', e ainda contam outras tantas lorotas mais. Mal sabe o povo que o cumprimento de todas essas “bondades” depende de autorização da Assembléia Legislativa.
Políticos que agem dessa maneira enganosa são os verdadeiros usurpadores da consciência alheia. Forasteiros de plantão, que, num descuido da população, chegam vendendo ilusões e, uma vez alcançando o Poder, fazem exatamente o contrário do prometido e do esperado pelas populações necessitadas. Em verdade, é como se o povo colocasse uma raposa para tomar conta do galinheiro, no dizer geral.
Quanto aos que não lograram êxito numa eleição passada, registrou-se a paga de outra forma, com as nomeações de mulher, filhos e outros familiares, tudo à custa do Erário. O bom seria que as eleições fossem anuais, pois só assim poderíamos também usufruir das benesses do Governo...
Já perto de finalizar, entendo que o Poder Legislativo tem que ser independente do Executivo. E isso só será possível se os futuros parlamentares não precisarem pedir ao Governo qualquer benefício pessoal ou para seus cabos eleitorais.
O Deputado, estadual ou federal, tem que ser um eterno vigilante das ações governamentais, com independência para criticar os mandatários todas as vezes que estes praticarem atos contrários aos interesses do povo e/ou descumprirem o programa com que se comprometeram durante a campanha eleitoral.
Se os governantes não forem devidamente fiscalizados pelo povo e por seus representantes, por mais bem intencionados que sejam, poderão ser submetidos a pressões daqueles que financiaram suas campanhas, afastando-se, portanto, dos interesses das populações, em especial as carentes.
E não podemos jamais esquecer que, no passado, a Paraíba, embora pequenina, mostrava-se forte na figura de seus representantes, como é o caso de vultos da estirpe de José Américo de Almeida, Plínio Lemos, João Agripino Filho, Ruy Carneiro, Janduhy Carneiro, Osmar de Aquino, Antônio Mariz, entre tantos outros que dignificavam o mandato outorgado pelo povo.
Esses, sim, disputavam as tribunas dos fóruns de que participavam, discutindo os problemas nacionais, regionais e estaduais. É duro ter que viver à mercê de uma oligarquia qualquer, tendo que pagar caro, via o comprometimento do futuro de nossos conterrâneos, de nossos filhos, de nossos descendentes.
Para guiar nossos passos, inclusive nas eleições que se aproximam, não devemos esquecer o que com tanta propriedade dizia um cidadão de bem como José Américo de Almeida: “Desgraçadamente, neste país de tantos ladrões públicos, só os homens de bem têm o dever de prestar contas”.