Nelson Barros tem as suas influências, embora as dilua e evite convertê-las numa espécie de mão única de sua obra poética. Diria até que quem dita os seus poemas, quem os escreve de forma livre, solta, é a própria vida, o acúmulo de suas experiências, através do poder transfigurador da linguagem.
Quase sempre o eu-lírico de “Tarot poético” se expressa num tom intimista, mas, mesmo quando fala com os seus próprios botões, fala muito mais com os botões do leitor, do outro, aos quais se dirige com a inteligência do coração.
Quase sempre o eu-lírico de “Tarot poético” se expressa num tom intimista, mas, mesmo quando fala com os seus próprios botões, fala muito mais com os botões do leitor, do outro, aos quais se dirige com a inteligência do coração.
A poesia de Nelson Barros não vem a reboque de breviários poéticos, de conteúdos programáticos dessa ou daquela corrente estética, mas do excesso ou da carência de ser do seu estar no mundo, da sua autobiografia do imaginário.
Em suma, nunca é demais repetir que o primado de sua poesia é a vida, o que não significa dizer que ele soçobre no mero biografismo, ou que invista tão só na espontaneidade, marca registrada dos que acreditam na prevalência absoluta da inspiração sobre o artesanato verbal.
Sem descurar do construto de sua lírica, mas sem fazer do seu gabinete um laboratório afeito exclusivamente à carpintaria poética, Nelson areja, oxigena a sua poesia, na medida em que a torna receptiva à vida em todas as suas dimensões e latitudes.
Um Dia
Um dia, a raiva passa A m’água passa e volta a ser só água Ou lava ou leva Quando lava O barquinho volta a correr macio no riacho Quando leva Leva o fel Leva junto o que foi mel No tempo que a raiva leva O rancor tira a cor do olho E o verniz da vista embaça Até que a água do olho sai E a vista aclara Pode ser que se reveja o que já fora Ou o que se deve jogar fora E o barquinho volta a correr macio no riacho.
Um dia, a raiva passa A m’água passa e volta a ser só água Ou lava ou leva Quando lava O barquinho volta a correr macio no riacho Quando leva Leva o fel Leva junto o que foi mel No tempo que a raiva leva O rancor tira a cor do olho E o verniz da vista embaça Até que a água do olho sai E a vista aclara Pode ser que se reveja o que já fora Ou o que se deve jogar fora E o barquinho volta a correr macio no riacho.
(poema do livro Tarot Poético, que ilustra o texto Um Dia, inserido na lâmina que diz respeito à carta da Roda de Fortuna)