ALUVIÕES Um minuto mais e a cidade Some, setada por Raios bruxos, despejados Do ocaso Um minuto só e ela desaparece...

Um leão é cavernoso, mas tem a cor do sol

ALUVIÕES
Um minuto mais e a cidade Some, setada por Raios bruxos, despejados Do ocaso Um minuto só e ela desaparece Dragada por seu Porto Onde ainda vejo aquela mulher Desse porto, o do Capim: Adoecida no leito A pobre mulher se deflagra Por um filete verde De candeia Um minuto mais e a cidade É acuada por um cão Pisoteada pelos cascos De nova revolução Sulcada pelas rodas Das mil carroças Dos mil homens Vindos da roça Um instante só e o mar A mutila de vez Um minuto só e ela sucumbe Na tarde, apedrejada Por chuva vermelha De jambinhos podres Abençoada por um bêbado Trespassada pela espada De seu mais novo raptor
OFICINA
Um leão é cavernoso Mas tem a cor do sol Teria sido forjado De metais confusos Quando de uma bola de fogo A terra ainda não passava Durante milhões de anos Foi enigma e elucidou a insaciável natureza das origens, foi Uma das formas preferidas do fogo Foi relógio, um tubo dourado Cavou rios quentes e vermelhos Mediu o tempo dos rebanhos Do que hoje resta do inicial leão Coração é peça mais antiga O restante se fez à volta Uma eternidade o depurou Vindo a ter hoje cauda e juba A cauda é um tição A juba, resplendor (Do livro “Explicações do Fogo”)
VIAGEM
De madrugada deitado sobre a terra Eu via as nuvens Num vôo galopante, em silêncio Passavam sobre mim. E além das nuvens Daquele insone passeio De nuvens Uma multidão de estrelas piscar Adormecendo gelada Então eu fechei os olhos e dormi E sonhei: os seres Eram pássaros do vento As pedras, homens de sono E sucedeu, naquele sonho Perceber que alguém dormia: Era eu e somente eu Sobre as estrelas

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